Valor Econômico, v. 20, n. 4814, 14/08/2019. Política, p. A8

Expulso do PSL, Frota abre pelotão dos 'sem partido'

Andrea Jubé
Raphael Di Cunto
Marcelo Ribeiro


 

Expulso do PSL, o deputado Alexandre Frota (SP) cogita ficar sem partido temporariamente, embora tenha recebido convite para se filiar a cinco legendas. Frota passou a fazer parte de um grupo de parlamentares descontentes com a pressão partidária sobre a atuação parlamentar. O senador Jorge Kajuru (DF) também anunciou que não se filiaria a outra legenda após deixar o PSB em meio a desentendimentos com a sigla, mas recuou ao se deparar com as desvantagens dessa independência. Ameaçado de expulsão do PSB pelo voto favorável à reforma da Previdência, o deputado Luiz Flávio Gomes (SP) também quer ficar independente se deixar a sigla.

A Executiva do PSL expulsou Frota do partido pelas críticas a correligionários, ao governo e ao presidente Jair Bolsonaro. "Seu desalinhamento com o partido, e não foram uma nem duas vezes, foram várias, nos fez entender que poderíamos prescindir da filiação dele", justificou o presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE). Segundo Bivar, a expulsão não teve relação com a abstenção de Frota no segundo turno da votação da reforma da Previdência, mas com os ataques a outros filiados. Como foi expulso por "graves ofensas" e não por infidelidade, o partido não vai requerer o mandato de Frota na Justiça.

Frota ganhou protagonismo como coordenador do PSL na reforma da Previdência, tendo se aproximado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do ministro da Economia, Paulo Guedes. "A gente trabalha 15 horas por dia; na reforma, eu chegava muito cedo na Câmara, saía tarde; agora pretendo ficar um pouco de fora até pra entender como é transitar sem partido", disse ao Valor em conversa na quinta-feira, antes da expulsão.

Até a semana passada, Frota havia recebido convites para se filiar ao DEM, PSDB, MDB, PP e Podemos. Se não estiver filiado, o parlamentar não pode integrar as comissões temáticas, assumir relatoria de projetos, receber recursos do fundo eleitoral ou disputar novo cargo eletivo.

Frota explica que se absteve na votação da reforma para dar recado: "Não estou aqui para fazer o que o governo quer, o voto de deputado federal tem que ser respeitado". Agora Frota deve submergir até definir seu destino político. Próximo de Rodrigo Maia e do governador de São Paulo, João Doria, Frota estaria dividido entre o DEM e o PSDB.

Ambos lhe ofereceram protagonismo e espaço nas duas siglas. Se Frota quiser disputar eleição majoritária no ano que vem, tem de decidir até outubro para cumprir o prazo de filiação da lei eleitoral.

O deputado Luiz Flávio Gomes responde a processo no Conselho de Ética do PSB porque contrariou a orientação partidária ao endossar a reforma da Previdência no primeiro turno. No segundo turno, ele votou contra a proposta por causa da liberação da tributação sobre exportações agropecuárias, que garantiu R$ 83 bilhões ao setor. Mas a alteração de postura não suspendeu o andamento do processo.

Aos seis meses de primeiro mandato, Luiz Flávio está descontente com os partidos. Afirma que "envelheceram", que precisam se reoxigenar. "O fechamento de questão é radicalismo", criticou.

Ele diz que se deixar o PSB, defenderá a criação da bancada dos "sem partido" para assegurar as prerrogativas parlamentares (como relatorias e participação em comissões), e militará pelas candidaturas avulsas.

O senador Jorge Kajuru desfiliou-se do PSB depois de endossar o decreto de armas do presidente Jair Bolsonaro e manifestar-lhe apoio em outras questões, contrariando a sigla que faz oposição ao governo. Ele acenou com a possibilidade de ficar sem partido, mas recuou, e está de malas prontas para o Patriota.

"Eu sou titular de três comissões, suplente de mais duas e serei presidente da CPI do Esporte. Sem partido, eu não poderia participar de nenhuma delas, nem mesmo da CPI de que sou criador", explicou Kajuru ao Valor. Eleito com 1,5 milhão de votos, ele justifica que não seria útil ao eleitorado se não puder ter uma atuação relevante no Senado.

O nome mais expressivo sem partido até agora é o senador Reguffe (DF), que não se filiou a nenhuma outra sigla depois de romper com o PDT em 2016. Reguffe disse a interlocutores que está arrependido da escolha.

No momento, negocia a filiação ao Podemos. O único deputado sem partido atualmente é Luiz Antônio Corrêa, ex-prefeito de Valença (RJ) que se elegeu pela Democracia Cristã (ex-PSDC).