Valor Econômico, v. 20, n. 4813, 13/08/2019. Política, p. A14

Dodge prorroga força-tarefa da Lava-Jato

 Luisa Martins
 Isadora Peron
 Mariana Muniz



Diante de especulações sobre um possível fim da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba, cujo prazo de funcionamento se encerraria em 9 de setembro, a Procuradoria-Geral da República (PGR) se antecipou e decidiu renovar a medida pela quinta vez.

Assinada pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, a portaria deve ser publicada hoje e, em seguida, submetida à aprovação do Conselho Superior do Ministério Público Federal (CSMPF). A coincidência entre a proximidade do prazo para o fim da força-tarefa e o vazamento das mensagens que expuseram práticas supostamente ilegais do procurador Deltan Dallagnol, chefe da Lava-Jato em Curitiba, levantaram entre procuradores a hipótese de que o grupo pudesse ser dissolvido.

Instituída em abril de 2014 com dez procuradores, a força-tarefa foi ampliando seu quadro de pessoal (hoje, são 15 procuradores e outros 54 servidores, comissionados e estagiários) e aumentando sua disponibilidade de recursos. No início, diárias e passagens representaram R$ 574,3 mil; só neste ano, já foram destinados R$ 808 mil.

Hoje o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) incluiu na pauta de sua reunião dois processos contra Dallagnol. Será a primeira reunião após a volta do recesso do Judiciário. Cabe ao órgão, que tem como função fiscalizar a conduta de promotores e procuradores de todo o país, debater um eventual afastamento de Dallagnol do cargo ou do comando do grupo que atua no Ministério Público Federal do Paraná.

Os processos que foram oficialmente pautados hoje, porém, não têm relação com as reportagens que vêm sendo publicadas pelo site "The Intercept Brasil" e outros veículos de imprensa do país. O Valor apurou que há uma articulação em curso para que seja apresentado um pedido para rever o arquivamento de representação contra Dallagnol feita em junho. Na ocasião, logo após os vazamentos envolvendo integrantes da Lava-Jato começarem, o corregedor nacional do Ministério Público, Orlando Rochadel, decidiu arquivar o processo aberto para apurar a conduta dos citados pela publicação.

Os 14 conselheiros deverão realizar, antes do início da sessão, uma reunião para combinar o que, de fato, será levado à discussão no plenário. Oficialmente, a pauta da sessão conta com 151 processos. O conselho é presidido pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge.

De qualquer maneira, os conselheiros não devem proferir uma sentença definitiva sobre o caso de Dallagnol hoje. Uma eventual decisão negativa em relação a ele ainda poderia ser alvo de recurso, por exemplo.

Dos processos que estão em pauta, um deles foi movido pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL). Ele acusa o coordenador da força-tarefa de fazer campanha contra a sua recondução à presidência do Senado nas redes sociais. O vencedor da disputa, que aconteceu em fevereiro, foi Davi Alcolumbre (DEM-AP). Ontem, o site "The Intercept" publicou mensagens em que o coordenador da Lava-Jato é parabenizado por um colega por ter ajudado a "derrubar Renan".