Valor Econômico, v.20, n. 4930, 30/01/2020. Política p.A10

 

Regina Duarte diz “sim” e assume a Cultura


Secretaria continuará atrelada ao Ministério do Turismo

Fabio Mrakawa

Matheus Schuch

Isadora Peron

 

A atriz Regina Duarte aceitou o convite do presidente Jair Bolsonaro e assumirá a Secretaria Especial de Cultura. O “sim” de Regina ocorreu ontem, após reunião com o presidente no Palácio do Planalto.

Em entrevistas quase simultâneas, eles recorreram à metáfora do “casamento”, que vêm utilizando desde o último dia 17, quando a atriz foi convidada ao posto.

“Sim, mas agora vão ocorrer os proclamas antes do casamento”, disse Regina Duarte ao deixar a sede do governo. Sua fala fez referência ao “edital de proclamas”, documento emitido pelo cartório quando os noivos dão entrada no casamento civil.

Minutos antes, falando com jornalistas à porta do Palácio da Alvorada, Bolsonaro usou a mesma analogia para descrever a situação.

“Você já se casou? Está na fase do proclamas”, disse Bolsonaro ao chegar à residência oficial do Palácio da Alvorada. “Está tudo certo, está caminhando, ela está acertando as questões pessoais dela”, disse, acrescentando que não há prazo para que a atriz assuma o posto.

Diferentemente do que queria Regina Duarte, a Cultura não voltará a ser um ministério. Continuará sendo uma secretaria subordinada ao Ministério do Turismo.

No início da noite, a Secretaria Especial de Comunicação (Secom) emitiu nota também fazendo referência às “bodas” entre Bolsonaro e Regina Duarte. “Ambos consideram, nesse momento, o avanço de uma nova fase do noivado, com trâmites preparatórios oficiais para o casamento”.

Também em nota, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, afirmou que “trata-se de um reforço do mais alto nível para compor o time do governo federal”.

“Turismo e Cultura são atividades com uma forte sinergia que mostram ao mundo o que o Brasil tem de melhor, além de terem um alto potencial de geração de emprego e renda em nosso país e é sob essa perspectiva que trabalharemos fortemente e tendo essa importante parceira em nossa equipe”, disse Álvaro Antônio.

No Planalto, além de conversar com Bolsonaro, Regina foi apresentada aos ministros Paulo Guedes, da Economia, e Sergio Moro, da Segurança Pública, que se reuniram ontem com Bolsonaro pouco antes do encontro com a atriz. Marcelo Álvaro Antônio também estava presente.

Ela assumirá o posto vago desde a demissão de Roberto Alvim. O antecessor foi demitido depois de publicar vídeo com referências nazistas para divulgar um prêmio cultural.

Regina chegou ontem ao Planalto de bom humor e brincando com os jornalistas sobre a possibilidade de aceitar ou não o convite de Bolsonaro. “Vou precisar de vocês, hein? O país é de todos nós. Eu só acho que eu vou precisar de vocês para o ‘sim’, para o ‘não’, para o ‘talvez’. Ih, rimou, né?”, disse.

Depois, afirmou que ama Brasília, uma “cidade maravilhosa”, segundo ela. “Se tivesse um filho pequeno ia querer criar aqui”, disse.

Embora seja identificada com pautas de direita e alinhadas ao bolsonarismo, Regina Duarte é vista pela classe artística como alguém “menos radical” do que Alvim. Atriz, empresária e produtora cultural, Paula Lavigne classificou em entrevista na semana passada a nomeação de Regina como “redução de danos”. Segundo ela, a atriz “é de direita, mas não é nazista” e pode ajudar a acabar com o “desmonte total da cultura”.