Valor Econômico, v.20, n. 4930, 30/01/2020. Brasil p.A6

 

Preço de importação recua 4,5% em 2019


Queda das cotações pressionou para baixo valor total importado no ano passado

Marta Watanabe

Os preços médios das importações brasileiras caíram no ano passado, o que pressionou para baixo o valor total das compras externas do país. Em 2019, elas somaram US$ 177,3 bilhões, um recuo de 2,1% em relação ao total importado em 2018. Desmembrando por preço e quantidade, os desembarques totais na verdade cresceram 2,4% em volume, enquanto as cotações tiveram baixa de 4,5%, segundo dados da Fundação Centro de Estudos para o Comércio Exterior (Funcex). Em queda, os preços de importação contribuem para ajudar a manter a inflação em níveis baixos.

O recuo de preços foi generalizado. Dos 30 segmentos de atividade que a Funcex acompanha, somente em sete não houve queda das cotações no ano. O aumento de volume também não foi isolado. Dos mesmos 30 setores, houve elevação de quantidades desembarcadas em 20.

Para Mario Carvalho, economista da Funcex, a queda de preços pode ser atribuída a vários fatores. O economista lembra que o cenário de 2019 para o comércio internacional foi de desaceleração, o que resultou em recuo de preços em todos os mercados. No Brasil não foi diferente. Pode ainda ter contribuído para a redução a negociação de preços entre importadores brasileiros e fornecedores estrangeiros, em alguns ramos, em razão da desvalorização do real em relação ao dólar.

Com o início do conflito entre Estados Unidos e China em 2018, houve muita apreensão em relação ao ambiente de comércio internacional para 2019, lembra José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). “Isso fez com que o mundo se preparasse para a desaceleração do comércio reduzindo preços ou oferecendo descontos.”

Pelos dados da Funcex, houve queda de preços de importados em praticamente todas as grandes categorias. Os preços médios de bens de capital caíram no ano passado 3,9%, e os de intermediários, 4,7%. Os bens de consumo não duráveis ficaram estáveis, enquanto os duráveis tiveram elevação de 1%.

Em termos de quantidade, foram os intermediários que puxaram o aumento de volume, com avanço de 6,7%. Os intermediários representam praticamente 60% das importações. Pelo menos três fatores podem explicar o aumento no quantum de intermediários, diz Carvalho. A alta pode indicar antecipação de importação com perspectiva de mudança de processos e de produtos pelas indústrias, diz ele. Também pode estar ligado a uso de incentivos, como drawback, ou até mesmo, em parte, à substituição de alguns intermediários nacionais por importados. O drawback é um incentivo tributário que livra a importação de insumos do recolhimento de tributos, desde que sejam usados para bens destinados ao exterior.

O volume de bens de capital recuou 8,2%, influenciado pelas plataformas de petróleo. Os desembarques no ramo de outros equipamento de transporte, no qual estão inseridas as plataformas, caíram 43,7% em volume em 2019, na comparação com o ano anterior. Segundo os dados da Funcex, as quantidades importadas em outros ramos da indústria de bens de capital cresceram.

Entre os segmentos com maior crescimento do volume de importação, estão máquinas e equipamentos, com alta de 24%, bem como máquinas, aparelhos e material elétrico, ramo que avançou 13,9%. O aumento de volume nos dois segmentos foi acompanhado de queda de preços, respectivamente de 5,5% e 5,3%.

Para Carvalho, a elevação no volume de importações em segmentos de bens de capital pode estar relacionada à concessão de ex-tarifário, benefício no qual se reduz temporariamente o imposto de importação para máquinas e equipamentos sem similar nacional. Segundo Castro, no decorrer de 2019 houve ampliação considerável dos itens beneficiados com ex-tarifário. Ele pondera que se trata apenas de pequena recuperação em relação à perda de bens de capital. As importações nessa categoria tiveram queda significativa durante a recessão.

Apesar do avanço de 2,4% na quantidade importada em 2019, houve sensível desaceleração do crescimento de volume importado ao longo do ano passado, já que o crescimento em 2018 havia sido de 11,9%, destaca a Funcex. Para este ano, diz Castro, o que se espera é um aumento das importações, que deverão ser puxadas tanto por recuperação de preços quanto de volume. As expectativas de crescimento para 2020 estão melhores que as para o ano passado no cenário internacional. O acordo entre EUA e China traz uma perspectiva melhor, mas ainda há preocupação sobre até que ponto ele será cumprido pelo país asiático, diz Castro.

De qualquer forma, afirma, as expectativas voltam também a ser mais positivas para a economia doméstica em 2020, o que leva naturalmente a estimativas de alta de importações. Ele lembra que no início de 2019 as projeções do mercado também apontavam para crescimento econômico de 2% a 2,5%, mas as taxas acabaram sendo revisadas no decorrer do ano. Esperava-se uma retomada das importações já no ano passado, segundo Castro. Os desembarques, lembra, chegaram a vir mais fortes no início do ano, mas perderam fôlego à medida que as expectativas de crescimento não foram cumpridas.

O levantamento também analisou as exportações por preço e quantidade. O volume embarcado caiu 2,9% em 2019. A venda de produtos básicos cresceu 1%, mas predominou o efeito negativo da redução de 6% em manufaturados.