Valor Econômico, v. 20, n. 4888, 27/11/2019. Política, p. A11

Guedes pede para que o Brasil pratique a ‘democracia responsável’

Paola de Orte


A visita de pouco mais de dois dias do ministro da Economia, Paulo Guedes, a Washington, acabou marcada por uma série de referências à política interna brasileira. Menos de 24 horas depois de ter dito, na segunda-feira, que as pessoas não deveriam ficar assustadas “se alguém pedir o AI-5”, o ministro voltou a falar sobre possíveis convulsões populares.

“Que tipo de democracia é esta que só um lado pode ganhar? ”, disse o ministro e, mais adiante em sua fala, completou: “Eu acho que deveríamos praticar a democracia responsável. ”

“Sabe como jogar o jogo da democracia? Espere a próxima eleição. Não precisa quebrar a cidade. Acho que isso assusta os investidores, acho que não ajuda nem a oposição, é estúpido”, disse o ministro.

A declaração foi durante evento do Peterson Institute, em que o ministro apresentou seu projeto de reformas estruturais. Na fala, Guedes afirmou que o Brasil vive uma “democracia vibrante”, que “não há problema com manifestações públicas” e que é “inteiramente compreensível” as pessoas irem às ruas na América Latina para reclamar de maneira pacífica.

Guedes sugeriu, entretanto, que as manifestações só acontecem quando a oposição perde. “Pessoas vão para a rua em paz, pessoas vão para a rua pedir, isso é democracia, democracia é barulho. As pessoas têm direito de fazer barulho, pedir coisas, não há problema em manifestações públicas. ”

“É inteiramente compreensível que as pessoas vão às ruas na América Latina: pacificamente, e que reclamem. Mas não somos ingênuos: é só quando a oposição perde. ”

“Estamos transformando o Estado brasileiro. É um trabalho difícil. O que vocês estão ouvindo ‘é uma bagunça, convulsão social’, não prestem atenção. Há uma democracia vibrante, a democracia brasileira nunca foi tão forte, poderosa, vibrante, não há escândalo de corrupção, os crimes caíram”, completou.

Ainda assim, afirmou que convulsões sociais trazem prejuízos políticos, assustam investidores e que é preciso jogar o jogo democrático “corretamente”. “Daqui a três anos, vocês tentam concorrer nas eleições”, disse ele, referindo-se à esquerda.

Apesar de ter tido diversas oportunidades ao longo do dia para falar com os jornalistas, Paulo Guedes optou por não explicar sua fala sobre o AI-5.

Na saída do Departamento do Tesouro, onde se reuniu com o secretário Steve Mnuchin, o ministro não quis responder à imprensa. Respondeu apenas agradecendo a turistas, que, ao avistarem o ministro, gritaram o nome do presidente Bolsonaro e “Paulo Guedes, sou sua fã!”

Apesar da resistência em falar com a imprensa, o ministro não economizou palavras em seu primeiro compromisso pela manhã, um encontro fechado no Conselho Empresarial Brasil-EUA. Lá, Guedes estourou o tempo de sua fala, não deixando espaço para que os convidados fizessem perguntas. (Com Folhapress)