Valor Econômico, v. 20, n. 4887, 26/11/2019. Internacional, p. A11

Concentração de gases na atmosfera é recorde

Assis Moreira

A concentração de gases de efeito estufa na atmosfera atingiu novo recorde em 2018 e não há sinais de desaceleração, alertou ontem a Organização Mundial de Meteorologia (OMM), em Genebra.

Técnicos da ONU também destacam a alta de emissões causadas pelo desmatamento e o uso excessivo de fertilizantes na agricultura.

Para a OMM, o aumento de gases na atmosfera significa que futuras gerações enfrentarão efeitos mais severos das mudanças climáticas, como temperaturas maiores, mais clima extremo, falta d’água, elevação do nível do mar e danos a ecossistemas marinho e terrestre.

“Não há nenhum sinal de desaceleração e menos ainda de diminuição da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera”, disse o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas. “Temos de traduzir os engajamentos do Acordo de Paris em ações e rever nossas ambições no interesse da humanidade. ”

O novo boletim da OMM aborda a concentração atmosférica dos gases de efeito estufa. Emissão representa o que é propagado na atmosfera. Concentração representa o que permanece na atmosfera depois de um complexo sistema de interações entre atmosfera, biosfera, oceanos, litosfera (camada sólida mais externa da Terra) e criosfera (superfície terrestre cobertas permanentemente por gelo e neve e aquela parte do solo que contém gelo). Cerca de 25% das emissões são absorvidos pelos oceanos e outro quarto pela biosfera.

A tendência é de as emissões globais seguirem aumentando, se forem mantidas as políticas e os níveis de ambição atuais dos países.

Em 2018, a concentração de dióxido de carbono (CO2) alcançou a média global de 407.8 partes por milhão (ppm), comparado a 405.5 ppm no ano anterior. A alta é relacionada principalmente ao uso de combustíveis fósseis. CO2 é o gás-estufa com mais longevidade relacionado à atividade humana e sua alta em 2019 foi superior à da última década. Esse gás permanece na atmosfera por séculos e no oceano por ainda mais tempo.

Segundo a OMM, 12% das emissões de CO2 são geradas por desmatamento em florestas tropicais na América do Sul, Ásia, África, e por mudança no uso da terra.

Para Taalas, o desafio é tanto a renovação das florestas tropicais, como também o de prevenir enormes queimadas de florestas em várias regiões no mundo, passando por Canadá, Califórnia, Austrália.

A concentração de CO2 atingiu agora um nível 147% maior do que no período pré-industrial de 1750.

O metano (CH4) é o segundo gás mais importante e contribui com 17% no aumento da concentração na atmosfera. Cerca de 40% do metano é emitido por fontes naturais, como pantanais, e 60% por atividade humana, como criação de gado, produção de arroz, exploração de petróleo, aterros sanitários e queima de biomassa (matéria orgânica utilizada como fonte de energia).

Já o óxido nitroso (N2 O) é emitido pelo uso de fertilizantes e vários processos industriais. A OMM vê um uso excessivo ampliar a produção agrícola, o que eleva as emissões.