Valor Econômico, v. 20, n. 4811, 09/08/2019. Política, p. A8

Sob ataque, força-tarefa de Curitiba faz menos operações que Lava-Jato do Rio

André Guilherme Vieira



Atingida em cheio por uma crise que dividiu a opinião pública sobre as condutas de seus integrantes, a partir da divulgação de trocas de mensagens reveladas pelo site 'The Intercept', a força-tarefa da Lava-Jato no Ministério Público Federal (MPF) em Curitiba vive seu pior momento desde que foi criada, em abril de 2014. A caminho de seu 6º ano de existência, a equipe integrada por procuradores da República dá sinais de que o volume de novas investigações relacionadas à corrupção na Petrobras entrou em uma trajetória descendente.

Constituído pelo então procurador-geral da República Rodrigo Janot para reforçar as investigações sobre ilegalidades na estatal e em suas subsidiárias, o grupo de trabalho paranaense começou com seis procuradores da República e hoje contabiliza 15. Entretanto, desde o fim do ano passado tornaram-se menores e mais espaçadas as fases ostensivas de investigação.

De janeiro até agora foram cinco novas operações policiais. As fases 58 (em que foi preso o ex-governador do Paraná Beto Richa, do PSDB, em janeiro), 59 (cujo foco foi o ex-presidente da Estre Ambiental, Wilson Quintella, em janeiro), 60 (com a prisão do acusado de operar propinas para o PSDB, Paulo Preto, em fevereiro), 61 (que mirou o Banco Paulista S.A, que teria lavado dinheiro para a Odebrecht, em maio) e a 62ª etapa da operação - cujos alvos foram os sócios do Grupo Petrópolis, em julho. Seu dono, Walter Faria, foi preso sob acusação de auxiliar a Odebrecht a realizar pagamentos ilícitos trocando reais, no Brasil, por dólares em contas titularizadas no exterior.

O número corresponde a menos da metade do total de fases ostensivas de investigação deflagradas no mesmo período pela força-tarefa do MPF no Rio de Janeiro. Ela foi criada em 2016, depois que o então relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Teori Zavascki (morto em janeiro de 2017 em acidente aéreo) determinou a cisão de inquéritos e processos que não envolvessem a Petrobras.

De janeiro a agosto foram 11 operações policiais solicitadas pelos procuradores cariocas e autorizadas pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal. A mais ruidosa delas envolveu as prisões do ex-presidente Michel Temer (MDB) e de seu aliado e ex-ministro, Moreira Franco, ocorridas em 21 de março. Acusados de corrupção relacionada à usina nuclear Angra 3, foram soltos quatro dias depois por liminar do desembargador Ivan Athiê, do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). A 1ª Turma da Corte resolveu reencaminhar Temer e Moreira à prisão em julgamento realizado no dia oito de maio. Mas a 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou a ordem do TRF-2 e, em decisão unânime, pôs os investigados em liberdade em 14 de maio.

Em seguida a Lava-Jato fluminense prendeu doleiros acusados de lavar dinheiro para o ex-governador Sérgio Cabral (MDB), em maio; no mesmo mês houve investida contra gerentes de bancos que atuaram no esquema de lavagem de Cabral operando quase R$ 1 bilhão pelo sistema bancário, por meio da compensação de cheques, segundo o MPF. Em julho foi preso o procurador do Estado do Rio de Janeiro, Renan Saad, suspeito de receber propina da Odebrecht no esquema de corrupção pública atribuído a Cabral.

Também em julho os investigadores do MPF do Rio localizaram Dario Messer e o prenderam em São Paulo. Ele é conhecido como 'o doleiro dos doleiros' por ter coordenado e garantido financeiramente esquema internacional de lavagem que contava com dólar-cabo, entregas em dinheiro vivo, pagamentos de boletos e compra e venda de cheques no comércio, de acordo com a procuradoria.

A última ação da Lava-Jato do Rio culminou na segunda prisão do empresário Eike Batista, cumprida ontem, sob suspeita de manipulação do mercado de capitais e lavagem de dinheiro (ver abaixo). A maior produtividade de operações conduzidas pelos investigadores do Rio, em comparação à força-tarefa do Paraná, se explica por ao menos duas razões.

Primeiro porque a equipe de Curitiba foi criada dois anos antes e já viveu o seu 'auge' entre 2015 e o começo de 2017, contabilizando até agora mais de 1700 prisões e ações de busca e apreensão.

Em segundo lugar está o perfil do juiz responsável pela Lava-Jato do Rio, Marcelo Bretas. Considerado por criminalistas que defendem réus em processos por delito de corrupção como 'excessivamente proativo', Bretas é mais predisposto a atender demandas do MPF do que seu colega de Curitiba, Luiz Antônio Bonat.

Titular da cadeira que pertenceu ao hoje ministro da Justiça Sergio Moro por 22 anos, Bonat tem em comum com o ex-juiz a rigidez no enfrentamento a crimes financeiros e organizações criminosas. O magistrado, no entanto, é considerado mais ponderado que seu antecessor quando é instado a decidir questões que envolvam prisão de investigados.