Valor Econômico, v.20, n. 4929, 29/01/2020. Política p.A5

 

Voo na FAB faz assessor de Onyx ser demitido


Presidente mantém respaldo à secretário de Comunicação

Matheus Schuch

Fabio Murakawa

O presidente Jair Bolsonaro retornou ontem da Índia e, visivelmente irritado, anunciou a primeira providência ao desembarcar em Brasília: a demissão do agora ex-secretário-executivo da Casa Civil, Vicente Santini, que utilizou um avião da Força Aérea Brasileira para se deslocar com assessoras de Davos, na Suíça, para Nova Déli.

O presidente considerou “inadmissível” e “imoral” o fato de o número 2 do ministro Onyx Lorenzoni utilizar o jato. Santini estava substituindo Onyx, que está em férias, em duas missões ao exterior. Confrontado sobre o uso da aeronave oficial, disse que não teria tempo hábil para utilizar voo de carreira nas agendas. O argumento não convenceu o presidente.

“Inadmissível o que aconteceu. Já está destituído da função de executivo do Onyx, decidido por mim”, afirmou, ao chegar no Palácio da Alvorada.

A atitude foi incomum. Ele parou para conversar com jornalistas mesmo sem a presença de populares no local. Ao descer, anunciou a demissão antes de ser questionado sobre o tema. "O que ele fez não é ilegal, mas é completamente imoral. Ministros antigos foram de avião comercial, classe econômica", complementou.

A reação ocorreu no dia seguinte à publicação de uma matéria sobre o caso pelo jornal “O Globo”, que relatava a insatisfação de Bolsonaro com a atitude.

Santini era defensor ferrenho do presidente desde a campanha eleitoral. Advogado e tido como excelente técnico do governo, também ganhou espaço pela proximidade com um dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro, com quem circulou e tirou fotos na viagem à Índia. Agora, a secretaria-executiva será ocupada por Fernando Moura, então adjunto na pasta. Os ministros já haviam sido alertados de que, caso não houvesse espaço na aeronave presidencial, teriam de viajar em voos comerciais, de classe econômica.

A demissão de Santini coincidiu com a decisão do Ministério Público Federal (MPF) de pedir à Polícia Federal que investigue os atos do secretário de Comunicação Social, Fabio Wajngarten, no cargo. Wajngarten é dono de uma empresa que presta serviços a emissoras de TV e agências publicitárias que recebem verbas do governo. Publicamente, o presidente da República contemporizou o pedido e reforçou apoio ao servidor.

“Desde que tenha um indicativo para investigar, vai ser investigado. Até o momento, não vi nada de errado por parte do Fabio”, argumentou. Em nota, Wajngarten disse que o pedido de inquérito é oportunidade de provar que não houve irregularidade. “Não há qualquer relação entre a liberação de verbas publicitárias do governo e os contratos de minha empresa”, garantiu.

No momento em que Bolsonaro falava com a imprensa, a Comissão de Ética Pública (CEP) da Presidência decidiu aplicar uma advertência ao ministro da Educação, Abraham Weintraub, por comparar no Twitter os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff a cocaína e associar o PT à narcoguerrilha colombiana das Farc. A decisão foi tomada por unanimidade.

O ofício da CEP recomendará que Weintraub atente aos padrões éticos. Em caso de reincidência, as punições poderão aumentar gradualmente até a sugestão de exoneração do cargo.

Enquanto a Casa Civil sofreu uma baixa inesperada, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, segue fortalecido no governo, segundo o próprio presidente. Bolsonaro destacou que Moro continuará responsável pelas duas áreas, mas admitiu ter sido pressionado a cindir a pasta.

“É a luta pelo poder, o tempo todo tem alguém beliscando um ministério. Mas, pelo que eu vi, o Moro não mordeu a isca, nem eu. Continua com o ministério, sem problema nenhum”, disse o presidente. “Foi um trabalho muito grande lá atrás, da Comissão de Segurança, para criar [estrutura exclusiva para Segurança] e nós resolvemos diminuir para fortalecer a Justiça”.