Correio Braziliense, n. 21715, 30/08/2022. Política, p. 5

Governo insistirá nas privatizações

Michelle Portela


Embora o ministro da Economia, Paulo Guedes, tenha admitido certa “frustração das privatizações”, o governo federal ainda não jogou a toalha para a venda de patrimônio da União, mesmo diante do risco eleitoral, uma vez que o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto. O Ministério da Infraestrutura planeja, ainda para este ano, a concessão de 31 ativos.

A informação foi dada pelo ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, durante o último pregão dos aeroportos, realizado na Bolsa de Valores Brasileira (B3), na semana passada. Na ocasião, o governo federal arrecadou R$ 2,72 bilhões na sétima rodada de leilões de concessão de terminais, que vai transferir a administração de outros 15 à iniciativa privada.

De acordo com o MInfra, está prevista a concessão de 31 ativos: três rodovias, 13 arrendamentos portuários, três desestatizações portuárias e a relicitação de dois aeroportos. No total, somam cerca de R$ 90 bilhões em investimentos privados durante os contratos.

Alguns projetos têm atraído os olhares do setor privado: a desestatização do Porto de Santos, com R$ 18,5 bilhões em investimentos para a modernização; dois lotes do bloco de rodovias integradas do Paraná, com investimentos na ordem de R$ 16 bilhões; e a concessão da BR-381/MG, com R$ 5,75 bilhões estimados. Está previsto, também, o projeto do sistema BR-040/495/MG/RJ, principal ligação rodoviária entre o Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Para o presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), Venilton Tadini, a venda dos ativos dependerá, principalmente, das eleições. Mas outros fatores têm peso. “Vamos encontrar um cenário de economia global prejudicada por uma série de situações: inflação alta nos Estados Unidos, e em outros locais, e baixo ânimo de investidores ainda experimentando um mundo pós-pandemia”, avalia.

Rafael Martins de Souza, pesquisador do Centro de Estudos e Regulação em Infraestrutura (Ceri) da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que a lista do patrimônio a ser privatizado inclui alguns muito importantes para a economia do país. “O Porto de Santos é o maior porto da América Latina. As rodovias do Paraná têm papel bastante destacado no escoamento da produção do estado. O volume de investimentos contratados, R$ 90 bilhões, é bastante significativo, considerando o orçamento para investimentos do Ministério da Infraestrutura de 2022, R$ 792 milhões”, avalia.