Valor Econômico, v. 20, n. 4809, 07/08/2019. Política, p. A10

Apoio à recondução de Dodge à PGR cresce no Supremo

Mariana Muniz
 Isadora Peron



Na reta final para a sucessão da Procuradoria-Geral da República (PGR), a campanha pela recondução da atual procuradora-geral, Raquel Dodge, segue firme no Supremo Tribunal Federal (STF). Parte dos ministros, incluindo o presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, faz campanha nos bastidores para que o presidente da República, Jair Bolsonaro, a mantenha no cargo.

Ontem, o ministro Marco Aurélio Mello elogiou publicamente pela primeira vez a atuação da chefe do Ministério Público Federal (MPF) e o ministro Gilmar Mendes disse que a candidatura dela permanece intacta diante dos últimos episódios envolvendo a Lava-Jato.

Na avaliação de Marco Aurélio, Dodge "tem fortes trunfos e fortes apoios" dentro da Corte - como Dias Toffoli e Luiz Fux, próximo presidente do Supremo.

"Ela tem meu aplauso pelo cumprimento desses dois anos", afirmou o ministro, dizendo que o período foi "profícuo em termos de saneamento da Casa [Ministério Público] e também de atuação junto ao STF", disse.

O mandato da atual procuradora-geral termina em 17 de setembro. Ela busca ser reconduzida para mais dois anos mesmo sem ter entrado na disputa pela lista tríplice formada pela categoria. O ministro lembrou, contudo, que a lista não tem caráter vinculativo.

"Cabe ao presidente definir a escolha dele. Ele não está preso a nenhuma lista, ao contrário do que ocorre em relação aos Ministérios Públicos Estaduais", completou Marco Aurélio.

Em meio aos recentes episódios envolvendo a divulgação de mensagens atribuídas a procuradores da força-tarefa da Lava-Jato, o ministro Gilmar Mendes, também ontem, disse não acreditar que a recondução de Dodge fique contaminada pelas revelações.

"Eu acho que há um grave problema de gestão que isso está revelando. É a ponta do iceberg. Certamente virão mais informações. Estamos falando de investigações criminosas. Imagina o que não fizeram nas delações?", afirmou, ao comentar os diálogos publicados pelo jornal "El País". As conversas sugerem que procuradores da Lava-Jato planejaram buscar na Suíça provas contra ele.

Apesar do apoio do STF, a opção de manter Dodge no cargo parece estar mais distante das intenções de Bolsonaro. Sem acenos do presidente, nos bastidores da PGR o que se diz é que ela já teria entregue os pontos.

A mudança de posicionamento de Dodge na análise da indicação do procurador Ailton Benedito para integrar a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos [ver nesta página] foi interpretada como um sinal desse desapego à recondução. Em junho, quando a questão começou a ser analisada a pedido da ministra Damares Alves, do ministério da Família, da Mulher e dos Direitos Humanos, a PGR havia se manifestado favorável ao nome do colega. Ontem, contudo, vetou a indicação do colega.

Nas últimas semanas, outros candidatos têm sido apontados como os preferidos do presidente: desses, desponta o do subprocurador Augusto Aras, crítico ferrenho da lista tríplice. Ligado ao ex-deputado Alberto Fraga, em pouco mais de um mês teve mais de quatro encontros privativos com o presidente. Pelos corredores do Planalto, voltou a circular o nome do subprocurador Mario Bonsaglia, primeiro colocado da lista, que será recebido por Toffoli amanhã. Também ressurgiram apostas no subprocurador José Bonifácio de Andrada, que concorreu à lista tríplice mas não ficou entre os mais votados