Valor Econômico, v. 20, n. 4809, 07/08/2019. Brasil, p. A7

Bolsonaro ironiza europeus e afirma ser "Capitão Motosserra"

 Anaïs Fernandes
 Cristiane Agostine



O presidente Jair Bolsonaro afirmou na manhã de ontem a uma plateia de empresários na cerimônia de abertura do 29º Congresso Expofenabrave, em São Paulo, que líderes internacionais ainda não se deram conta de que o Brasil "está sob nova direção". Durante o discurso, ele ironizou o presidente da França, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, ao falar sobre questões ambientais

Ele reiterou que dados "imprecisos" sobre desmatamento prejudicam a imagem do Brasil no exterior. "Sou o Capitão Motosserra", disse, sarcástico, arrancando risadas da plateia de empresários do setor de revenda de automóveis. Segundo o presidente, "ninguém no mundo tem moral para dizer" como as florestas brasileiras devem ser tratadas.

"Vocês não imaginam o prazer que eu tive de conversar com Macron e Angela Merkel. Eles não se deram conta ainda de que o Brasil está sob nova direção. Agora tem presidente da República", afirmou Bolsonaro enquanto discursava sobre o desmatamento na Amazônia. "Não posso me comprometer com palavrão, mas dá para usar: 'Tem presidente da República, poxa!'", reiterou, despertando novos risos da plateia.

O comprometimento da administração Bolsonaro com questões ambientais vem sendo questionada por países europeus. Antes mesmo do anúncio do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, Macron disse em junho, durante a cúpula do G-20, que a França não assinaria o documento caso o Brasil saísse do Acordo de Paris, sobre mudanças climáticas. Já Merkel afirmou, também na cúpula em Osaka, no Japão, que via com "grande preocupação" as posições do presidente brasileiro em relação ao desmatamento. À imprensa na época, Bolsonaro rebateu dizendo que os alemães "têm a aprender muito conosco".

Ontem, Bolsonaro voltou a dizer que "maus brasileiros não podem divulgar números mentirosos, fazendo uma campanha negativa para o nosso Brasil", sem citar diretamente o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), cujo diretor Ricardo Galvão foi exonerado após rebater críticas do presidente sobre dados de desmatamento divulgados pelo órgão.

Na visão de Bolsonaro, a divulgação desses dados são "uma péssima propaganda para o Brasil lá fora. Quando falam que estamos desmatando, quando dados imprecisos são divulgados, quando números absurdos, caso fossem verdadeiros, como aquele que eu já desmatei mais de 88% da Amazônia", afirmou.

O Inpe detectou aumento de 88% nos alertas de desmatamento da Amazônia em junho de 2019, na comparação com igual mês de 2018. A publicação desses dados abriu uma crise entre a entidade e o governo. "Divulga isso, é péssimo com a gente. Acabamos de assinar um acordo com o Mercosul que estava há 20 anos parado", afirmou Bolsonaro. Novas informações apontam que os alertas aumentaram 278% em julho.

À tarde, em Itapira (interior de São Paulo), Bolsonaro afirmou que o Brasil está "de braços abertos" para a exploração da biodiversidade na região Amazônica e repetiu o tom crítico sobre a divulgação de dados sobre o desmatamento no território brasileiro. "Tenho falado nas minhas viagens internacionais que o Brasil está de braços abertos para outros países que queiram, por parceria, explorar a nossa biodiversidade da região amazônica", afirmou. "Não podemos continuar tendo péssimos brasileiros ao nosso lado, divulgando números mentirosos, em campanha contra a nossa pátria", disse o presidente, ao participar da inauguração da nova unidade farmoquímica oncológica do grupo Cristália.

O presidente reiterou que o Brasil está sob nova direção e que ele não vai demarcar dezenas de terras indígenas ou quilombolas. Para o presidente, essas demarcações "só dividem o nosso povo".

"Quero buscar parcerias para a biodiversidade, exploração de recursos minerais", afirmou o mandatário. "Vou lutar por uma Amazônia nossa. O que acontece de errado vamos tentar solucionar. Mas ninguém no mundo tem moral para dizer para nós como tratar nossas florestas."