Valor Econômico, v. 20, n. 4808, 06/08/2019. Política, p. A10

Bolsonaro diz que fará escolha para PGR na próxima semana

Marina Falcão
Renan Truffi 
Fabio Murakawa



O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que deve anunciar a escolha no novo procurador-geral da república na próxima semana, no máximo. "Não tenho nenhum problema com a Raquel Dodge", disse, quando questionado sobre a performance da procuradora.

"Temos excelente nomes e vai ser muito difícil bater o martelo", afirmou após inauguração de usina solar flutuante em Sobradinho (BA). O mandato de Dodge termina em setembro. Também estão no páreo o procurador Augusto Aras e os três selecionados na votação organizada pela Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR): Mario Bonsaglia, Luiza Frischeisen e Blal Dalloul.

Em sua segunda viagem ao Nordeste em duas semanas, Bolsonaro criticou o governador da Bahia, Rui Costa (PT), que não viajou para recebê-lo. "Ninguém proibiu o governador de vir aqui. Em Vitória da Conquista (BA), o governador [Rui Costa] determinou que polícia não fizesse a nossa segurança. Então quem tem preconceito é ele", afirmou Bolsonaro. Bolsonaro disse que não negar nada aos Estados do Nordeste, mas que se os governadores da Paraíba e do Maranhão "quiserem que isso tudo seja atendido, têm que falar que estão trabalhando com o presidente Jair Bolsonaro".

No mês passado, foi veiculado um vídeo em que Bolsonaro foi flagrado chamando os governadores nordestinos de "governadores de paraíba" em um diálogo com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Segundo Bolsonaro, a maioria dos mandatários do Nordeste quer dividir a região  do resto do Brasil. "Querem fazer disso aqui uma Cuba?", afirmou. "Eu tenho preconceito é com governador ladrão que não faz nada para o seu estado", frisou o presidente.

Bolsonaro visitou ontem a cidade na Bahia, para a inauguração da primeira plataforma flutuante de energia solar. A usina está em fase final de implantação e deve totalizar, até 2020, 2,5 Megawatt pico (MWp) instalados.

Horas antes, foi veiculada uma entrevista em que o presidente disse à apresentadora Leda Nagle, que tem um canal no "You Tube", que os criminosos "vão morrer igual barata" se o Congresso Nacional, de fato, aprovar uma ampliação do excludente de ilicitude, que permitiria a absolvição de réus por crimes cometidos em legítima defesa decorrente de "escusável medo, surpresa ou violenta emoção".

A proposta consta do pacote anticrime, de autoria do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e ainda está sob análise dos parlamentares, mas o governo estuda agora enviar outra medida específica sobre isso para garantir "segurança jurídica" aos policiais brasileiros.

"A partir do momento que eu entro no excludente de ilicitude defendendo a minha a vida e a de terceiros, a minha propriedade ou de terceiros, o meu patrimônio ou de terceiros, a violência cai assustadoramente. Os caras vão morrer na rua igual barata, pô, e tem que ser assim", disse.

Segundo Bolsonaro, "o bandido tem mais direito do que o cidadão de bem. Eu estou mandando um projeto, que vai ter dificuldade de aprová-lo, mas não tem outra alternativa. Nós temos que dar uma retaguarda jurídica para as pessoas que fazem a segurança. Policial civil, militar, federal, rodoviário".

Bolsonaro falou sobre essa proposta ao comentar, mais uma vez, o caso de um morador de rua, acusado de ter esfaqueado dois homens no Rio de Janeiro há uma semana. O presidente defendeu que os policiais envolvidos na ocorrência deveriam ter atirado "no meio" do agressor. Segundo ele, um tiro na perna pode não ser suficiente para parar um ataque desse tipo.

"Se eu tivesse armado ali, teria atirado naquele cara. O próprio policial que chegou ali depois atirou na perna. Tinha que ter atirado no meio dele, pô. A gente vê de vez em quando o cara que leva tiro na perna e reage ainda", disse. " Você agindo dessa maneira e o policial tendo a garantia de que não vai ser preso, não vai responder processo, o bandido pensa duas vezes antes de fazer besteira", complementou.

O pacote anticrime tem enfrentado dificuldades para avançar no Congresso e um novo projeto, exclusivo sobre o assunto, poderia driblar a resistência dos congressistas. Questionado se o tema seria mesmo objeto de uma uma nova proposta legislativa, o porta-voz da Presidência,  general Otávio do Rêgo Barros, esquivou-se. "O presidente há muito tempo acredita que uma das formas de diminuir os índices de criminalidade do país passa pelas condições de trabalho dos profissionais de segurança. Uma dessas medidas trata da segurança jurídica para que os policiais possam usar arma de fogo em operações sem ser processados", explicou.