Correio Braziliense, n. 21710, 25/08/2022. Cidades, p. 14

“Lula é o melhor candidato”

Aline Gouveia


Dedicado à produção literária e atento aos bastidores da corrida eleitoral deste ano, o ex-ministro da Educação Cristovam Buarque foi o convidado do 6º episódio do Podcast do Correio, disponível em plataformas de streaming. Em conversa com as jornalistas Denise Rothenburg e Ana Maria Campos, o escritor, que acumula na biografia atuações como ministro da Educação, governador do DF, e reitor da Universidade de Brasília, disse que a guinada foi uma decisão calculada e não perdeu o contato com importantes quadros políticos, especialmente os do Distrito Federal.

O distanciamento permitiu a Cristovam Buarque uma análise do momento político do país. Ministro da Educação durante o governo do ex-presidente Lula, em 2003, o ex-senador abordou antigas feridas com o Partido dos Trabalhadores (PT), causadas pelo voto favorável ao impeachment da ex-presidente Dilma. "Se eu for olhar do ponto de vista de uma análise, eu não poderia fazer diferente, pois passei dois anos dizendo que a presidente Dilma estava cometendo crime de responsabilidade. Fiz audiência pública no Senado, escrevi um relatório em que dizia isso. Acho que votar contra seria incoerência. Do ponto de vista do custo pessoal, digo 'será que valeu a pena?'", questionou.

Para as jornalistas, ele disse que a decisão gerou o que ele chamou de um "divórcio traumático", mas que a relação vem sendo restabelecida, tanto que ele tem declarado apoio a Lula, candidato à presidência da República pelo PT. "Com toda a polarização que existe, o Lula ainda é o melhor dos candidatos para fazer uma coesão nacional, é o que tem mais capacidade de colocar empresários e trabalhadores, agronegócio e ambientalistas, analfabetos e universitários", avaliou o escritor.

Ele considera a chapa Lula—Alckmin como positiva, pois demonstra que o petista percebeu o equívoco da rivalização entre os partidos, em 1992 e 2018. "Em vez de se unirem para dar coesão e rumo ao Brasil, se dividiram", critica. Na perspectiva do escritor, o PT e o PSDB são "paulistanos" demais e "ficam pensando quem vai ser o próximo prefeito de São Paulo e brigam no Brasil inteiro", alfineta.

Sobre os casos de corrupção nos governos do PT, ele acredita que é necessário responsabilização. "Dizer que o outro é pior e também faz não deve ser explicação para o que houve. Deveria ter outra explicação, que é a falha. Falhou", disse. Ele ainda sugeriu a criação de um comitê especial de luta contra a corrupção, formado por pessoas escolhidas pela sociedade civil e não pelo presidente.

 

Momento estratégico

Analisando em retrospectiva a carreira política, o ex-senador afirmou ter contribuído com os mandatos que exerceu e não ter visto nenhum partido que o entusiasmasse para voltar às disputas. Filiado ao Cidadania, Cristovam desaprovou a federação que o partido fez com o PSDB.

A respeito dos arranjos desenhados para os cargos majoritários do DF, ele afirmou que conversou com Leandro Grass (PV) e Leila Barros (PDT) e recomendou a união dos candidatos dos blocos para o Senado. "Se não, eles vão eleger a Flávia Arruda (PL) ou a Damares (Republicanos)", analisou.

Quanto ao cargo de chefe do Poder Executivo ele foi evasivo. "Desde que eu dei meu primeiro voto, aos 18 anos, eu nunca cheguei perto da eleição sem saber em quem votar, dessa vez eu queria chegar sem ser candidato, mas cheguei sem ter candidato", lamentou o ex-senador.

Após encerrar o último mandato, em 2019, como senador federal, Cristovam publicou três livros, entre eles O mundo é uma escola — o que eu aprendi em viagens, lançado no início de abril deste ano. Ao todo, são 33 livros abordando variados temas, como educação, história, economia e sociologia, sendo três infantis: A borboleta azul, A rebelião das bicicletas e outras histórias e O tesouro na rua, uma aventura sobre a história econômica do Brasil. "Em vez de buscar eleitor, agora busco leitor", garantiu.

O podcast do Correio está disponível no Spotify e no Apple Podcasts, além do estar acessível em formato de vídeo no canal do Correio Braziliense no YouTube. O programa é apresentado pelas jornalistas Denise Rothenburg e Ana Maria Campos, ambas colunistas de Política do Correio e integrantes da bancada de entrevistadores do programa CB.Poder, realizado em parceria do Correio com a TV Brasília.

 

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