Valor Econômico, v. 20, n. 4885, 22/11/2019. Brasil, p. A4

Emprego formal reforça melhora da atividade

Mariana Ribeiro
Anaïs Fernandes


O mercado de trabalho formal no Brasil abriu vagas pelo sétimo mês consecutivo em outubro, reforçando a visão entre os analistas de que o ritmo da atividade econômica vem ganhando força, ainda que lentamente.

No mês passado, foram criados 70,9 mil postos de trabalho, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados ontem pelo Ministério da Economia. O resultado é melhor do que o observado no mesmo mês do ano passado, quando foram criadas 57,7 mil vagas. Em outubro de 2017, porém, o saldo havia sido maior, de 76,6 mil.

O número verificado no mês passado ficou ligeiramente abaixo do estimado pela mediana de economistas consultados pelo Valor Data, de 74,2 mil novos postos. “Não dá para dizer que o resultado surpreendeu negativamente o mercado. O desvio padrão dos modelos do Caged é de 20 mil, 30 mil, então uma diferença de 5 mil é muito próximo”, explica Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco.

A instituição projetava criação de 65 mil vagas no mês. O ajuste sazonal do Itaú indica 63 mil novos postos, o que eleva a média móvel trimestral de 55 mil postos até setembro para 60 mil em outubro. “Como o Caged é bem volátil, a média móvel de três meses ajuda a dar uma ideia da tendência, que é de melhora gradual. Alcançar 60 mil é um ritmo consistente com um crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] próximo de 2,1%, em termos anualizados. Isso indica que a economia está provavelmente saindo do crescimento de 1% dos últimos três anos”, afirma Barbosa. O Itaú projeta avanço de 1% no PIB deste ano e de 2,2% em 2020.

Entre os setores econômicos, a geração de emprego foi mais acentuada no comércio, que criou quase 44 mil postos. Segundo a MCM Consultores, o desempenho provavelmente está relacionado à liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), iniciada em meados de setembro, “propiciando melhores estimativas para as vendas de final de ano”, afirma em relatório.

Outro destaque positivo, de acordo com especialistas, é a construção civil, que abriu 7.294 vagas em outubro, o sétimo mês consecutivo com saldo positivo.

Já a indústria de transformação, que criou 8.946 postos, continua demonstrando desempenho errático e lento, “em linha com a atividade industrial, que sofre choques negativos, como a queda das exportações à Argentina”, afirma Rayne Santos, analista da Tendências Consultoria.

Também houve resultados positivos em outubro para serviços (19,1 mil) e a indústria extrativa mineral (344). O saldo ficou negativo no mês e agropecuária (-7.819), serviços industriais de utilidade pública (-581) e administração pública (-427).

No acumulado do ano, o saldo líquido de contratações foi de 841,6 mil, maior resultado para o período desde 2014, quando 912,3 mil vagas haviam sido criadas. No acumulado em 12 meses até outubro, o país registra ganho de 562,2 mil postos.

O secretário especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, comemorou o resultado em sua conta no Twitter. “Seguimos trabalhando para melhorar cada vez mais o ambiente de negócios e a segurança jurídica para quem empreende”, disse.

Em outubro, a criação de vagas atingiu as cinco regiões do país. O Sul liderou o resultado, com 27,3 mil vagas, seguido por Nordeste (21,8 mil), Sudeste (16 mil), Norte (4.315) e Centro Oeste (1.477). Além disso, o saldo foi positivo em 23 das 27 unidades da federação, com destaques positivos para Minas Gerais (12,3 mil), São Paulo (11,8 mil) e Santa Catarina (11,6 mil). Ficaram no vermelho Acre (-367), Bahia (-589), Distrito Federal (-1.365) e Rio de Janeiro (-9.942).

Apesar do resultado positivo, tanto o salário médio de admissão quanto o de desligamento caíram em outubro em relação ao mês anterior. O de entrada ficou em R$ 1.597, queda real de 0,48%. Já o de saída ficou em R$ 1.775, recuo de 0,69%. Na comparação anual, houve ganho real de 2,03% para o salário de admissão e de 3,66% no de desligamento. “Especialmente no caso da indústria, vemos repercussões negativas sobre o nível de evolução dos rendimentos”, diz Santos.

No mês passado, foram criados 6.087 postos de trabalho intermitente, modalidade introduzida pela reforma trabalhista em 2017 que permite jornada em dias alternados ou por horas determinadas. Houve criação de vagas principalmente nos postos de assistente de vendas (594), repositor de mercadorias (527) e cozinheiro (264).

“Vemos um aumento gradativo desse tipo de contratação, mas o volume ainda não é expressivo. Foi uma medida positiva, mas no Brasil é muito demorado formar jurisprudência, ainda existe muita incerteza”, diz Bruno Ottoni, da consultoria iDados. No chamado regime de tempo parcial, o saldo foi de 2.569 vagas.

Para Ottoni, o fato de o Caged de outubro vir em linha com o que esperava o mercado deixa a impressão de que “uma geração mais intensa de vagas vai ficar mesmo para 2020”, afirma. “No Caged, as contratações no último trimestre se concentram em outubro e novembro. Se o primeiro desses dois meses trouxesse uma surpresa muito positiva, poderíamos ver contratações temporárias não se convertendo em demissões e teríamos um fim de ano mais forte.”