O Globo, n. 32632, 10/12/2022. Política, p. 6

Per­fil de ‘toca­dor de obras’ leva Rui Costa à Casa Civil

Jeniffer Gularte


Eleito numa campanha em que uma das tônicas de seu discurso foi a retomada dos investimentos públicos, Lula assumirá um governo que não terá à mão muitos recursos para obras. A tentativa de fazer as promessas caberem dentro da realidade será um dos principais desafios de Rui Costa, o petista de 59 anos que está completando seu segundo mandato como governador da Bahia e foi anunciado ontem como o ministro-chefe da Casa Civil de Lula. Principal pasta do Palácio do Planalto, a Casa Civil é como o braço-direito do presidente, tem a atribuição de articular projetos que envolvem mais de um ministério, já teve perfil mais político em outras gestões e, no desenho do terceiro mandato de Lula, terá um caráter de gerenciar os projetos do governo. Com um outro ministério específico para a articulação política, o objetivo de Lula é ter uma Casa Civil no estilo mais administrativo do dia a dia das pastas, de contato com os demais ministros e secretários executivos e controle dos projetos considerados prioritários pelo futuro governo. A expectativa é que Rui Costa possa coordenar a execução de programas de infraestrutura como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Na Bahia, Costa é considerado um “tocador de obra” e deixará o governo com 85% da aprovação da população. Com estilo centralizador, tem como característica ser rígido com prazos, resultados e sempre busca saber detalhes dos projetos tocados pelos secretários. Na campanha à reeleição, usou o apelido de “Rui Correria” como mote para propagandear um candidato que não para. Como governador, visita pessoalmente canteiros de obras, consulta a planta da construção e questiona os técnicos sobre detalhes. Petistas afirmam que, a exemplo de Dilma, Costa também tem um estilo mais duro, que muitas vezes incomoda auxiliares.

Obras nos estados

Nascido em Salvador, o economista é filiado ao PT desde 1982, foi eleito vereador da capital baiana e depois deputado federal. Mais conhecido pelo perfil de gestor do que pela habilidade política, Costa tem como padrinho político o senador Jaques Wagner (PT-BA), um dos parlamentares mais próximos de Lula. Costa foi secretário de Wagner em duas ocasiões, primeiro na pasta de Relações Institucionais e depois na Casa Civil, cargo que repetirá agora com Lula. No Planalto, Costa terá como uma das primeiras prioridades fazer um levantamento das obras federais paradas que podem ser concluídas mais rapidamente. Uma alternativa é usar recursos de acordos de leniências com empresas para financiar essas conclusões. — Poderíamos fazer acordos em que recursos que seriam obrigados a devolver financeiramente ao longo de anos, fariam através da execução dessas obras. Teríamos um ganho, a antecipação do pagamento desse valor. Descobrir onde achar dinheiro num orçamento apertado para investimentos será um desafio. E o futuro ministro afirma que buscar recursos privados através de de concessões e parcerias público-privadas (PPPs) é uma das alternativas.

Antes disso, ajudar na aprovação da PEC da Transição pelo Congresso, ainda este ano, será decisivo para a disponibilidade de recursos.

—Todo mundo vai trabalhar (na negociação com o Congresso para a PEC). É um mutirão a favor do Brasil. Os dois candidatos que foram ao segundo turno prometeram aumentar os benefícios sociais. Costa reconheceu que seu posto terá influência nas maiores chances de sucesso ou fracasso da gestão de Lula.

— O desafio que o presidente nos deu foi coordenar as ações prioritárias e o objetivo é materializar o programa de governo. O carro-chefe é a PEC que é o início do trabalho para alcançar o fim da fome — declarou Costa, definindo sua atuação. — É uma função de gestão, não farei articulação política. O governador da Bahia afirmou que, como ministro, pretende fazer reuniões periódicas com governadores e prefeitos para montar uma agenda de obras e investimentos nos estados e municípios.

Histórico

A Casa Civil nas gestões petistas tem histórico de abrir figuras importantes do partido e dos governos Lula. No primeiro mandato do presidente eleito, José Dirceu, homem forte da gestão, ficou com o cargo. Após o mensalão, ele foi substituído por Dilma Rousseff, que usou a exposição que teve com a posição para construir sua candidatura como sucessora de Lula. Por governar a Bahia, Rui Costa já era um nome importante do PT. Ele ganhou ainda pontos com Lula por ter abdicado de uma eleição considerada certa ao Senado para permanecer como governador e assim facilitar o arranjo de alianças do PT no estado, ajudando por tabela a campanha presidencial.