Valor Econômico, v. 20, n. 4884, 21/11/2019. Política, p. A12

Marcelo Alvaro nega ter montado esquema laranja


O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, negou ontem que tenha organizado um esquema de candidaturas laranjas no PSL de Minas Gerais, que ele preside, para desviar de dinheiro do fundo eleitoral e abastecer sua própria campanha. Indiciado pelo Ministério Público, ele atribuiu as denúncias à insatisfação política de uma outra deputada do PSL, Alê Silva (MG), e disse que o presidente Jair Bolsonaro só lhe pede para trabalhar pelo fortalecimento do turismo no país.

“Ela me denunciou por questão pessoal. Ela teve prejuízo político porque perdeu os diretórios da cidade dela e do entorno para o meu suplente. Na visão dela, derrubando o ministro do Turismo, ela resolveria o problema dela porque o meu suplente voltaria para casa”, afirmou, ao participar de audiência pública na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher na Câmara.

A deputada Alê Silva apareceu na comissão e rebateu que, após investigar o partido em Minas, descobriu que candidatas da sua região receberam R$ 60 mil do fundo eleitoral sem fazer campanha. “Pensei que fosse coisa de assessor, tentei falar com o senhor ministro várias vezes e sabe o que ele fez? Uma montagem esdrúxula [de aúdios] e colocou lá no grupo [de Whatsapp do PSL] para tentar virar o jogo contra mim”, disse. “Na hora que se sentiu encurralado, ele disse: falem para a Alê parar com isso ou acabo com a vida dela”, acusou.

O ministro causou polêmica na comissão ao falar da aparência da deputada para rebater as acusações. “Nunca ameacei ninguém de morte. Ainda mais uma pessoa que já deve estar chegando na terceira idade, pelo menos no aspecto”, afirmou. Deputadas do Psol e PT protestaram que ele estaria ironizando a colega. “Não é piada, estou falando que nunca ameacei ninguém, quanto mais uma senhora”, desconversou. 

Ele criticou o inquérito policial, dizendo que há 6,6 mil páginas, mais de 80 pessoas ouvidas e que nenhuma prova contra ele e que o Ministério Público o teria indiciado oito horas após a conclusão da investigação pela Polícia Federal. Segundo ele, apenas uma das pessoas ouvidas atribuiu a ele fraude no uso do fundo eleitoral, mas ele teria provado em outra cidade no dia da suposta reunião.

Questionado sobre um ex-assessor, Haissander Souza de Paula, ter dito em depoimento à PF que “acha que parte dos valores depositados para as campanhas femininas, na verdade, foi usada para pagar material de campanha de Marcelo Álvaro Antônio e de Jair Bolsonaro”, o ministro disse que o ex-funcionário falou sem que a polícia tenha respeitado seus direitos constitucionais, sem o auxílio de um advogado e que negou tudo no dia seguinte.

A deputada Fernanda Melchionna (Psol-RS) o acusou de “desrespeitar a inteligência e a luta das mulheres brasileiras”. “Parece que o lema do governo é: bandido inimigo eu denuncio, bandido amigo vira ministro”, ironizou. Além de Alê Silva, só parlamentares do PT e Psol questionaram o ministro, enquanto deputados do PSL, DEM, MDB e PSD se revezaram na defesa dele e de sua gestão.

Marcelo Álvaro defendeu a manutenção de 30% do fundo eleitoral para as candidaturas femininas, mas criticou a exigência de que 30% das vagas de candidatos tenham que ser preenchidos por mulheres. “A cota eu não vejo com bons olhos não”, disse.