Valor Econômico, v. 20, n. 4883, 20/11/2019. Política, p. A7

Lava-Jato quer ex-presidente paraguaio preso no Brasil

André Guilherme Vieira
Gabriel Vasconcelos


A Operação Lava-Jato no Rio de Janeiro quer a extradição do ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes, acusado de dar apoio à fuga e à ocultação de bens de Dario Messer, conhecido como ‘o doleiro dos doleiros’, e que ficou foragido por vários meses até ser capturado em julho, em um apartamento alugado por sua namorada, Myra Athayde, em São Paulo.

Cartes vive no Paraguai e a legislação do país permite a extradição de seus nacionais. No entanto, a medida depende de vontade política. Cartes é aliado do atual presidente Mario Benítez e conta com foro especial por ser senador vitalício, privilégio previsto na Constituição do Paraguai e concedido a todos os ex-presidentes do país. Para ser extraditado, é necessária autorização do Congresso paraguaio.

“Não podemos garantir que vai haver extradição, mas, em se tratando de um país [Paraguai] que tem um ministro subornado, pode ser um motivo para que a extradição de Cartes seja deferida de forma a mostrar seriedade ao mundo”, afirmou o procurador regional do MPF, José Augusto Vagos.

Vagos fez referência a Juan Ernesto Villamayor, ex-ministro do interior do Paraguai que, segundo a força-tarefa de investigadores, negociava suborno de US$ 2 milhões para impedir eventual extradição de Messer ao Brasil em caso de prisão naquele país, fato que acabou não acontecendo. Em outubro do ano passado, o doleiro optou por se refugiar em São Paulo e foi preso.

Desdobramento da ‘Câmbio, Desligo’, ofensiva contra vários doleiros também com atuação no exterior, a ‘Operação Patrón’ foi deflagrada ontem para cumprir 20 prisões no Brasil e no Paraguai. Myra Athayde foi presa por ser suspeita de ajudar Messer a se esconder. Também foram alvos de mandados de prisão os doleiros Najun Turner, que deu apoio

financeiro a Messer depois que ele retornou do Paraguai para o Brasil, segundo o Ministério Público Federal (MPF), e Roland Gerbauld, investigado por lavagem de dinheiro nos Estados Unidos e nas Bahamas.

A lista de alvos de ordens de prisão contou ainda com Felipe Cogorno Alvarez, investigado por ocultar US$ 500 mil para Messer, e Antonio

Joaquim da Motta, empresário acusado de crimes envolvendo contrabando de cigarros, tráfico de drogas e armas e que abrigou Messer em propriedades da família dele no Paraguai, segundo o MPF. Roque era o intermediador de contatos de Messer e Cartes, de acordo com os investigadores. Entretanto, nenhum do total de nove estrangeiros com prisões decretadas foi encontrado pela PF.

Sobre a família de Motta, os investigadores disseram que há “fortes indícios” de ligação com o tráfico de drogas e armas na fronteira do Brasil com o Paraguai, assim como relações com facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), que comanda o tráfico de drogas e de armas no Brasil com ordens que partem de líderes que estão dentro do sistema penitenciário. Os filhos de Motta teriam negociado 10 fuzis do tipo G-36 e adquirido duas unidades do armamento de um homem chamado Ricardo Branco, cujo contato no aplicativo de mensagens WhatsApp aparece associado à cidade de Curitiba, de acordo com o MPF.

Os procuradores disseram que, por ora, não foi encontrado vínculo direto de Messer com a negociação de armas. Mas a suspeita é que ela tenha sido viabilizada a partir de valores operados pelo doleiro no mercado negro de câmbio.

“Muita gente falava, no início do combate à corrupção, que não se tratava de crimes envolvendo violência, mas parte disso vem caindo porque a operação de [ontem] hoje mostra o envolvimento desses doleiros com tráfico de armas e drogas, [indício] que será aprofundado”, disse Rodrigo Alves, delegado da PF.

O MPF afirmou que Messer recebeu diversas ajudas financeiras, já que o doleiro buscava liquidez para manter suas operações ilegais com dólares enquanto seus bens estivessem bloqueados no Brasil e no Paraguai. O atual patrimônio sequestrado de Messer é de US$ 100 milhões, segundo o procurador José Augusto Vagos. Colaborou Francisco Goes, do Rio