O Globo, n. 32626, 04/12/2022. Política, p. 6

Moro pre­para saída do União Bra­sil, em caso de apoio a Lula

Bela Megale


O senador eleito Sergio Moro (PR) já tem falado com conselheiros políticos sobre seu futuro, caso o União Brasil, seu partido, decida integrar a base do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso Nacional. O ex-juiz externou, nos bastidores, sua contrariedade junto a alguns aliados, que veem grande chance de Moro deixar a legenda. Hoje, a decisão de Moro é submergir, até que o União Brasil bata o martelo sobre o apoio ou não a Lula, para então abrir conversas com outras legendas. Desde a campanha, Moro divide suas decisões com um pequeno grupo de conselheiros, que tem trabalhado para que ele atue de maneira "mais madura" e "sem atropelos". Nessas conversas, o e
x juiz foi convencido de que não deve falar publicamente sobre o tema e nem buscar outro partido, até que o União Brasil defina seu rumo. Segundo aliados do senador eleito, seu desejo é ficar onde está.

Erros passados

A avaliação desses aliados é que o ex-juiz já errou demais no passado e não pode tomar decisões que, depois, o obriguem a voltar atrás. O ex-juiz foi alvo de críticas sobre sua "inabilidade política", ao se lançar pré-candidato à Presidência da República pelo Podemos e, depois, se ver mergulhado numa crise com a sigla. Moro acabou mudando para o União Brasil para disputar uma vaga no Senado por São Paulo, mas teve o pedido de transferência de seu domicílio eleitoral negado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Acabou se lançando candidato pelo Paraná, por onde se elegeu.

Entre lideranças do União Brasil no Senado, a avaliação é que o ex-juiz "já está isolado" e que seu futuro provável é deixar a legenda, caso o partido confirme aliança com Lula. Na terça-feira, Lula convidou o União Brasil para fazer parte da base do futuro governo. O petista se reuniu com os líderes do partido na Câmara e no Senado, Elmar Nascimento (BA) e Davi Alcolumbre (AP). Os parlamentares ouviram a proposta, mas não bateram martelo sobre a adesão. Não houve menção a espaço e participação do União Brasil no novo governo.

O partido ainda está dividido, mas tem interesse em se aliar ao PT para conquistar cargos no Congresso. O esforço se dá, principalmente, para ter o controle do Orçamento da União. Segundo parlamentares da legenda, uma das intenções é poder indicar o relator-geral, posto cobiçado desde que o orçamento secreto foi criado.

Uma parte dos parlamentares do União Brasil é aliada do presidente Jair Bolsonaro e gostaria de fazer oposição a Lula, enquanto outra defende a adesão imediata ao governo. Há ainda uma terceira ala, que, segundo interlocutores, forma uma maioria a favor da "independência".

Resistências internas

Quando se filiou ao União Brasil, em março deste ano, o plano de Moro era retomar seu projeto de disputar a Presidência da República. Ele encontrou, no entanto, forte resistência no novo partido. Lideranças da sigla preferiam que o União Brasil liberasse seus diretórios estaduais na eleição para o Palácio do Planalto, o que acabou acontecendo. O partido se dividiu entre a neutralidade e o apoio à reeleição de Bolsonaro.

A saída de Moro do Podemos também não foi pacífica. A pessoas próximas, ele relatou que se sentia "boicotado" pelo partido, cuja prioridade era eleger bancadas no Congresso na eleição deste ano.