O Estado de São Paulo, n. 46810, 15/12/2021. Economia p.B3

 

Deputados destravam PEC dos Precatórios

 

Ander Porcella

Daniel Weterman

 

A Câmara aprovou ontem, em primeiro turno, a segunda parte da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios que abre um espaço fiscal de R$ 106,1 bilhões para aumento de gastos no ano que vem.

O governo Jair Bolsonaro dependia da votação para garantir o Auxílio Brasil no valor de R$ 400 e ainda negociar o restante para atender a demandas de parlamentares. A expectativa é de que a promulgação ocorra ainda nesta semana, sem necessidade de nova votação no Senado.

Na votação em primeiro turno, os deputados aprovaram o limite de pagamento de precatórios até 2026, e não mais até 2036, e a destinação do espaço fiscal da PEC para o Auxílio Brasil e despesas previdenciárias. Foram 327 votos a favor e 147 contra no primeiro turno – a votação da matéria em segundo turno e dos destaques ficou para uma sessão extraordinária hoje a partir das 10 horas.

A limitação para as despesas com dívidas judiciais abre folga de R$ 43,8 bilhões no teto em 2022. A mudança no cálculo, promulgada na semana passada, garante mais R$ 62,2 bilhões no Orçamento.

Os deputados também aprovaram a proposta do Senado de tornar o Auxílio Brasil um programa permanente na Constituição, mas sem necessidade de apontar fonte de financiamento para implantar o benefício de R$ 400, driblando a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Além disso, o texto aprovado prevê a criação de uma comissão no Congresso para fiscalizar a expedição e o pagamento de precatórios a partir do próximo ano, movimento batizado de "meteoro" pelo ministro Paulo Guedes.

 

FATIAMENTO. Após um impasse com o Senado durante o fatiamento da PEC, os deputados acabaram aprovando a maior parte das alterações. A vinculação do espaço fiscal, por outro lado, não garante que os recursos ficarão totalmente amarrados. As despesas poderão ser remanejadas no Orçamento de 2022.

A oposição se posicionou contra a proposta, mas não conseguiu barrar a aprovação. "Não estamos lutando contra 300 deputados. Estamos lutando contra R$ 16 bilhões em emendas do orçamento secreto", disse o líder da oposição na Casa, Alessandro

Molon (PSB-RJ), em relação ao valor negociado pela cúpula do Congresso para as emendas de relator no Orçamento do ano que vem.

Inicialmente, líderes da Câmara haviam feito um acordo para manter o limite de pagamento dos precatórios da União na proposta, mas sem nenhuma data para vigência dessa limitação. No entanto, uma negociação de última hora fez o PL, partido do presidente Jair Bolsonaro, retirar a sugestão de mudança no texto (destaque) que previa a derrubada do prazo.

Pelo entendimento da Mesa Diretora da Câmara, excluir a data para pagamento dos precatórios poderia levar à necessidade de haver uma nova PEC para estabelecer a vigência ou fazer com que a matéria voltasse para análise do Senado. Para aliados do governo, impor um limite até 2026, e não mais até 2036, como pretendido inicialmente, diminui o impacto da PEC e poderia trazer problemas para o Executivo no futuro. 

 

Trâmite

A expectativa é de que a promulgação ocorra nesta semana, sem ter de passar pelo Senado

 

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Governo libera verbas do Orçamento no dia da votação

 

No mesmo dia da votação, o ministro da Economia, Paulo Guedes, assinou uma portaria que destravou a execução de verbas do Orçamento de 2021 e autorizou o empenho de recursos até 31 de dezembro deste ano. Um decreto anterior limitava o prazo até 10 de dezembro e causou reação do Centrão e parlamentares da base governista na Câmara, que cobravam a liberação de mais recursos do orçamento secreto e ameaçavam travar a pauta.

O decreto previa que a data poderia ser revista pelo chefe da pasta da Economia. O bloco pressiona pelo pagamento das emendas de relator, centro do orçamento secreto. De R$ 16,9 bilhões previstos para este ano, R$ 6,2 bilhões ainda não haviam sido empenhados até segunda-feira.