Valor Econômico, v. 20, n. 4881, 16/11/2019. Política, p. A8

Para Gilmar, suspeição de Moro pode ser julgada neste ano

Luísa Martins


O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes disse esperar que a Corte julgue ainda em 2019 o caso sobre a suspeição do ex-juiz Sergio Moro (hoje ministro da Justiça e Segurança Pública) nos casos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O habeas corpus (HC) está nas mãos de Gilmar por força de um pedido de vista - cabe a ele devolver seu voto quando pronto e pedir uma data de julgamento para a presidente da Segunda Turma, ministra Cármen Lúcia.

O ministro deu as declarações ao jornal argentino “Clarín”, no fim de semana. Na entrevista, sinalizou que irá votar pela suspeição de Moro.

“Optou por deixar o cargo de juiz e assumir uma função governamental servindo a um governo que derrotou as forças de oposição e que é beneficiário, de alguma forma, de suas decisões”, declarou sobre o atual ministro da Justiça do presidente Jair Bolsonaro.

Cármen e o ministro Edson Fachin já votaram contra a suspeição de Moro, mas os ministros Ricardo Lewandowski e Celso de Mello podem acompanhar a divergência a ser aberta por Gilmar, anulando as sentenças do ex-juiz contra Lula.

Ao jornal, Gilmar falou também sobre a recente decisão do STF de modificar sua jurisprudência e proibir prisões automáticas após condenações em segunda instância.

“Aquilo que dissemos que seria uma possibilidade [em 2016, quando o Supremo permitiu a execução antecipada da pena] se converteu em um imperativo categórico. Se começou a prender-se sem fundamentos. Precisávamos mudar isso e isso fizemos”, explicou.

Questionado se a nova decisão não debilitaria o combate à corrupção no país, Gilmar respondeu que, para isso, “não há necessidade de usar mecanismos extravagantes”.

Ontem, em São Paulo, manifestantes reunidos na avenida Paulista pediram o impeachment de Gilmar Mendes.

Com gritos de “fora Gilmar” e para que o ex-presidente Lula volte para a prisão, a manifestação concentrou-se em torno de dois carros de som, em frente à Fiesp, a federação das indústrias do Estado.

“Justiça acima de tudo, Sergio Moro acima de todos’, gritaram os manifestantes que subiram no carro, adaptando a frase já conhecida do presidente Jair Bolsonaro (“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”).

Uma bandeira com o escrito “Impeachment do STF” foi estendida no chão. Com bandeiras do Brasil hasteadas ou enroladas no corpo, manifestantes também pediram o impeachment do ministro Dias Toffoli, presidente da Corte.

Welington Mourão, 42, trabalhador autônomo, disse que foi ao ato “para derrubar esses canalhas e ladrões”, referindo-se aos ministros do STF. “Quem não estiver do lado do povo, do presidente, vai quebrar.”

Fernanda Silva, 39, que trabalha com contabilidade, contou que, além da crítica ao STF, o grupo pedia também que “Deus esteja acima de todos”.

“O Brasil está avançando em todas as áreas. Vamos ver essa realidade mesmo no ano que vem, mas enquanto a esquerda ficar pirraçando, não vamos crescer”, afirmou.

Havia ainda cartazes de “Bolsonaro Mito” e “Sou Bolsonarista”. Um dos manifestantes que subiu ao carro de som disse que “em 2022, se o Bolsonaro quiser, ele será reeleito”. (Com Folhapress, de São Paulo)