O Estado de São Paulo, n. 46805, 10/12/2021. Política p.A12

 

Alckmin pode se filiar ao solidariedade para ser vice na chapa de Lula em 2022

 

Vera Rosa

 

De saída do PSDB, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin disse a aliados que não quer ser um "peso" para nenhum partido e estuda, agora, a possibilidade de migrar para o Solidariedade, a fim de fazer dobradinha com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. Alckmin ainda negocia com o PSB, mas as exigências feitas pela legenda para aceitá-lo como vice na chapa de Lula ao Palácio do Planalto têm provocado mal-estar antes mesmo do casamento de papel passado.

A filiação ao Solidariedade surgiu como alternativa e vem sendo tratada com sigilo. Após participar anteontem do 9º Congresso da Força Sindical – braço do Solidariedade –, Lula foi questionado por antigos companheiros de sindicalismo, a portas fechadas, se a aliança com Alckmin para 2022 era mesmo um desejo a ser perseguido.

"Ele foi bom governador em São Paulo e compor chapa com ele será bom para o Brasil. Continuem articulando. Eu quero", respondeu o ex-presidente, de acordo com relatos de três participantes do encontro.

Cinco dias antes, na sexta-feira, Lula havia se reunido com Alckmin na casa do ex-secretário Gabriel Chalita, em São Paulo, com a presença do ex-prefeito Fernando Haddad, pré-candidato do PT ao governo paulista. A conversa, como não poderia deixar de ser, passou por ácidas críticas ao governo de Jair Bolsonaro. Nessas ocasiões, Lula só poupa o presidente do Banco Central, Roberto Campos Netto, por quem tem simpatia.

O PT já começou a montar a coordenação da campanha. O publicitário baiano Raul Rabelo, que em 2018 assinou o programa de TV de Haddad, ao lado de Otávio Antunes, é agora o nome mais cotado para ser o marqueteiro de Lula.

Interessado em ser vice na chapa, Alckmin tem dito que o PSB jogou à mesa exigências muito difíceis para fechar o acordo. O partido quer, por exemplo, que o PT apoie seus candidatos aos governos de São Paulo, Rio, Espírito Santo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Acre. A cúpula petista já avisou o PSB que não aceita abrir mão de Haddad em São Paulo.

Diante dos obstáculos, amigos de Alckmin começaram a pressioná-lo para desistir da dobradinha com Lula e disputar o Palácio dos Bandeirantes pelo PSD de Gilberto Kassab. Ele ainda resiste.

 

IMPASSE. Foi nesse cenário de impasse que o deputado Alexandre Padilha (PT-SP) deu ao colega Paulinho da Força, presidente do Solidariedade, a ideia de convidar Alckmin para se filiar. Lula incentivou o movimento. "Eu já tinha chamado o Alckmin lá atrás. Reafirmei agora o convite para ele entrar no Solidariedade, com o objetivo de ser candidato a vice do Lula. Se ele quiser, vou trabalhar para isso", disse Paulinho ao Estadão.

A entrada de Alckmin como candidato a vice, porém, está longe de ser unanimidade no PT. "Para uma campanha aguerrida como a que será a de 2022, vamos ter um anestesista como vice?", ironizou o deputado Rui Falcão (SP), ex-presidente do PT, numa referência à profissão do ex-governador. "O que Alckmin vai representar nessa malsinada aliança? Por acaso agora ele vai ser contra as privatizações?", emendou Falcão, que integra a coordenação da campanha.

 

_______________________________________________________________________________________________________________________

 

Com ex-governador de vice, petista não tira votos de Moro ou Ciro

 

Pesquisa Genial/Quaest, divulgada anteontem, indica que um eventual palanque com o ex-presidente Lula e o ex-governador Geraldo Alckmin não deve mudar a ideia dos eleitores que hoje se inclinariam a votar em Sérgio Moro (Podemos) ou em Ciro Gomes (PDT) em 2022. De acordo com o levantamento, 6% dos apoiadores de Moro aumentam sua disposição de eleger o PT se a chapa tiver Alckmin como vice.

Para 14%, a chance de votar em Lula diminui. A proporção é parecida entre eleitores de Ciro. A maior parte dos que declaram voto em Ciro (56%) e Moro (71%) não mudaria de candidato. Entre os indecisos, 43% continuariam assim, 6% teriam menos interesse e 5% ficariam mais simpáticos à ideia.

Brasileiros que não querem nem Bolsonaro nem Lula também não planejam mudar o voto com a dobradinha: 67% mantêm o candidato, 7% aumentam o interesse e 17% diminuem.

Os mais propensos a eleger o petista numa aliança com Alckmin estão entre os que avaliam mal o governo Bolsonaro. Entre os que já apoiam Lula, 19% percebem a mudança como vantajosa e 10% diminuem o interesse./ GUSTAVO QUEIROZ