O Estado de São Paulo, n. 46804, 09/12/2021. Política p.A10

 

Crise econômica e social se impõe na corrida eleitoral e dita pré-campanha

Eleições 2022 

 

Pré-candidatos à Presidência dão protagonismo a propostas para geração de renda e emprego em agendas e discursos; pesquisas citam temas como os que mais preocupam o eleitor

 

Diante de um cenário de crescente crise econômica, marcada pelo desemprego elevado e alta inflacionária, os principais pré-candidatos à Presidência moldaram seus discursos e levaram propostas de geração de renda e trabalho para centro do debate político.

A preocupação do eleitor com os temas vem sendo detectada em pesquisas qualitativas das pré-campanhas e levantamentos de empresas e consultorias.

O protagonismo da economia no debate eleitoral ficou evidente nas agendas mais recentes dos presidenciáveis e no lançamento, ontem, da précandidatura da senadora do MDB Simone Tebet (mais informações nesta página). Ela defendeu a recriação do Ministério do Planejamento como medida prioritária. "Um País que não planeja não sabe para onde vai. É um País como nós temos hoje. Sem comandante e com um piloto da economia que não sabe para onde vai."

Como mostrou o Estadão, pré-candidatos já formaram "conselheiros" na área econômica com o objetivo de formular propostas para ampliar a renda e reduzir a inflação. Para 2022, a projeção do Produto Interno Bruto (PIB) piorou, de acordo com boletim Focus do Banco Central (BC) divulgado nesta semana. A estimativa de expansão do PIB para 2022 recuou de 0,58% para 0,51% – há um mês, estava em 1%. Já o IPCA, que deve fechar este ano em 10,19%, pode chegar a 5,02% em 2022, também de acordo com o boletim – para conter a alta dos preços, o BC elevou ontem Selic, a taxa básico de juros, a 9,25%, a maior em quatro anos.

Segundo pesquisa Genial/quaest, a economia é o principal problema enfrentado hoje pelo País na percepção dos brasileiros. O tema, que agrega desemprego e inflação, foi citado por 41% nas duas mil pessoas entrevistadas pelo instituto, à frente de pandemia (19%) e questões sociais (14%). A corrupção foi lembrada por 10%. "O aumento dos preços e o desemprego associado a um não crescimento econômico farão com que o debate seja sobre isso", disse o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest.

 

CORRUPÇÃO. Para o pesquisador Renato Meirelles, presidente do Instituto Lokomotiva e especialista em pesquisas com a classe C, a economia será em 2022 o que a corrupção foi em 2018 como tema eleitoral. "A economia para as pessoas não é o dado do PIB, mas saber se ela enche ou não o carrinho do supermercado com o mesmo dinheiro que enchia antes. Ou seja: inflação", disse.

O ex-ministro e ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) tem extrapolado o discurso anticorrupção e batido na tecla do combate à pobreza. Ontem, ele esteve com dois pré-candidatos do centro: Luiz Felipe d'ávila (Novo) e João Doria (PSDB). "Temos que fazer uma mesa-redonda para criar uma agenda comum, e esse debate tem que começar pela economia", disse d'àvila ao Estadão.

Vencedor das prévias tucanas, o governador paulista, por sua vez, também tem colocado a recuperação da economia como prioridade de sua agenda e anunciou o ex-ministro da Fazenda e atual secretário da pasta em São Paulo, Henrique Meirelles (PSD), como porta-voz da equipe que vai elaborar seu plano de governo na área. Não por acaso, foi o primeiro anúncio do tucano, que pretende montar um time com seis economistas.

Em um evento com sindicalistas na sede da Força Sindical, em São Paulo, o ex-presidente Lula criticou o teto dos gastos e centrou a maior parte de sua fala em dois temas: emprego e renda. "Se a gente emprestar dinheiro para o povo pobre, ele vai fazer a economia desse país girar. O consumidor compra, a indústria produz, gera mais renda, consumo e produção", disse, ao defender que o perdão da dívida de grandes empresas deveria se estender a quem tem renda menor.

Já o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) tratou do tema em uma live realizada anteontem com o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga. Por uma hora e meia, eles falaram exclusivamente sobre os principais tópicos ligados à economia brasileira. Ambos criticaram a alta taxa de juros no Brasil e compartilharam preocupações com a atual condução da economia no País.

 

FOCO. André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, avalia que os pré-candidatos liberais terão dificuldades em defender medidas como o ajuste fiscal. "O fato é que dado o nível de desemprego, queda da renda, inflação e taxa de juro, falar em austeridade vai ser muito difícil", disse.

Candidato à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) defende a agenda econômica do governo e mantém um discurso focado na pauta de costumes. Semana passada, o ministro da Economia, Paulo Guedes, reafirmou que a economia brasileira segue em recuperação em 'V': 'O Brasil está de pé", disse. / PEDRO VENCESLAU, GUSTAVO QUEIROZ, LEVY TELES E DAVI MEDEIROS

 

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Apoio do agronegócio a Bolsonaro foi 'questão de momento', diz CNA

 

O presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), João Martins da Silva Júnior, afirmou ontem que o apoio do agronegócio a Jair Bolsonaro em 2018 foi pontual e pode não se repetir na eleição de 2022.

Segundo ele, naquela eleição houve "algumas manifestações (de apoio do agronegócio ao presidente)". "Mas eu acho que foi uma questão de momento". Martins disse ainda que a entidade apresentará reivindicações a todos os candidatos presidenciais nas próximas eleições.

"Eu acho que o que o setor tem (de fazer) é preparar um material, mostrar o que são as deficiências que existem hoje e o que é que nós queremos do próximo governo. E apresentar para todos os candidatos", disse Martins.

Na entrevista a jornalistas, em Brasília, o presidente da CNA disse ainda que a ligação da entidade com o governo Bolsonaro se dá em torno de pautas, não de uma afinidade ideológica ou política.

A CNA é a principal entidade representativa do setor do agronegócio, e é tradicionalmente comandada pelos grandes produtores rurais do País. / ANDRÉ SHALDERS

 

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Pré-candidatura é por quem 'passa fome', afirma Simone

 

Daniel Weterman

Marcelo de Moraes

 

Com um forte discurso de cunho social, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) foi lançada oficialmente, ontem, como pré-candidata ao Palácio do Planalto. Simone escolheu dois adversários principais: o presidente Jair Bolsonaro, a quem acusou de promover "a discórdia" e de não saber para onde leva o País; e o que chamou de "aventureiros e de outsiders" da política, no que foi considerado como um movimento de oposição à candidatura do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro (Podemos). E se emocionou ao dizer que decidiu disputar a presidência por causa da existência de milhões de crianças no Brasil "passando fome".

Contra Bolsonaro, Simone foi direta nas críticas, que se estenderam ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Ao defender a recriação do Ministério do Planejamento como medida prioritária, a senadora reclamou da falta de rumo do governo. Um País que não planeja não sabe para onde vai", afirmou.

 

CENTRÃO. Simone protestou também contra o que chamou de "submissão" do governo ao Centrão e do poder excessivo que foi dado ao relator do Orçamento, que se ampliou a partir do chamado orçamento secreto. "Ele (governo) fica servo e submisso a um Congresso Nacional, parte dele considerado do Centrão, que tem emendas orçamentárias tamanhas que o relator geral é hoje considerado o primeiro-ministro do País. Não é possível avançar."

Em relação a Moro, Simone não fez referências diretas, mas o recado foi claro. A senadora procurou se apresentar como uma política experimentada e como opção segura em relação a nomes que nunca disputaram eleições, como é o caso do ex-ministro da Justiça. "O Brasil não pode estar mais à mercê de aventureiros, de outsiders. É preciso experiência administrativa e de gestão.

Sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a senadora foi mais amena, criticando apenas a polarização que divide o País. Com o MDB cheio de políticos bem relacionados com o petista, a diferença de tratamento ficou evidente, mas Simone garantiu que "não poupou ninguém" no discurso.