Valor Econômico, v. 20, n. 4879, 13/11/2019. Empresas, p. B1

Pré-sal, por si só, não atrai as múltis

Gabriel Vasconcelos


Petroleiras estrangeiras que não vieram ao Brasil nos dois últimos leilões do pré-sal “não virão mais no ano que vem”, nas palavras do presidente da BP Energy do Brasil, Adriano Bastos. Para o executivo, caso as áreas não arrematadas nos leilões de excedentes de cessão onerosa e na 6ª Rodada de Partilha do Pré-Sal voltem a ser oferecidas, mesmo em melhores condições, outros projetos pelo mundo vão ocupar o portfólio das empresas - reduzindo assim a capacidade dessas companhias investirem no país.

“O capital que não veio neste ano para o Brasil não vai vir no ano que vem. Outros projetos foram sancionados e isso entra na curva de espelho futuro de cada companhia. Vai bloquear a minha capacidade de investir no Brasil. O Irã já anunciou uma ‘mega’ descoberta, a [Saudi] Aramco está fazendo um IPO [abertura de capital]. O mundo está competindo com a gente”, disse Bastos.

O executivo fez as declarações no 15º Brazil Power & Energy, realizado pela Câmara Americana de Comércio (Amcham), no Rio. No evento, Bastos falou sobre os fatores que pesaram na decisão da empresa de não arrematar blocos nos leilões realizados na semana passada. Entre as razões citadas, estão a necessidade de negociação posterior para compensar a Petrobras por investimentos já realizados nas áreas do pré-sal e a obrigatoriedade de aprovação dos planos de desenvolvimento pela estatal brasileira PPSA. “A minha reunião com o ‘board’ da BP Energy do Brasil demorou três segundos”, disse sobre a decisão da BP Energy do Brasil de não fazer ofertas.

Em apresentação no evento sobre as expectativas da BP Energy do Brasil para a transição energética, Bastos reiterou a tese do mercado de que haverá substituição exponencial de petróleo e carvão por energias limpas e renováveis. Ele disse que há hoje, no mundo, reservas provadas e disponíveis de mais ou menos 7,5 trilhões de barris de óleo equivalente, mas que a demanda para óleo e gás nesses próximos 20 anos será de apenas 2,5 trilhões de barris.

À luz dessas estimativas, defendeu que o Brasil crie meios de acelerar a exploração do setor de petróleo. “Nós precisamos sancionar, trazer atividade para o país, recuperar toda a capacidade ociosa do Brasil. Se nos atrasarmos um ou dois anos, como por exemplo com Sépia e Atapu [para vender as áreas], esse atraso vai sair muito caro. Se atrasar um pouco mais, talvez nunca saia do papel. Há um tempo atrás, ter uma reserva dessa no chão era dinheiro no banco. Hoje é o contrário, temos que produzir antes que vire pedra”, afirmou.

Bastos criticou, ainda, o regime de partilha e o direito de preferência da Petrobras - embora tenha reconhecido que a regra ajudou a BP Energy do Brasil a ganhar blocos quando associada à estatal em leilões anteriores.

Também presente no mesmo evento, o CEO da Petrogal Brasil, Miguel Pereira, disse que a empresa não fez ofertas pelo campo de Aram, o mais atrativo da 6ª Rodada de partilha do pré-sal, porque o valor pedido na forma de bônus de assinatura foi muito alto (R$ 5 bilhões). Assim como o executivo da BP Energy do Brasil, ele também classificou como “risco” não saber o valor de compensação a ser pago à Petrobras por investimentos já realizados pela estatal nas áreas.

Pereira contou que a Petrogal chegou a iniciar negociações prévias com a Petrobras para definir os valores da compensação, mas as empresas não chegaram a um denominador comum.

O diretor executivo de relacionamento institucional da Petrobras, Roberto Ardenghy, também presente no evento, disse que o leilão de excedentes da cessão onerosa representa o fim de ciclo regulatório no setor. Ele criticou os termos do contrato assinado em 2010 entre a União e a Petrobras, que autorizava a produção e exploração pela petroleira estatal em determinadas áreas da Bacia de Santos de até 5 bilhões de barris de óleo equivalente. Mas, como o volume excedeu esse patamar, foi realizada este ano uma licitação para vender o excedente. Ao falar sobre o tema, o executivo afirmou que o contrato da cessão onerosa foi “mal concebido em um tempo de extrema ideologização do negócio de óleo e gás”. Para ele, não se poderia atribuir a uma empresa direito de exploração de cinco bilhões de barris e dar acesso a uma área que poderia ter o dobro desse potencial.

Ao falar sobre o direito de preferência em leilões, ele afirmou ainda que a Petrobras não quer privilégios ao realizar seus negócios, e tem condição de competir, de igual para igual, com suas concorrentes no setor. “A Petrobras não quer privilégio nenhum. Temos condições de competir em igualdade de condição com os nossos colegas da [americana] Exxon e da [britânica] BP”, afirmou ele.

No evento, o executivo da Petrobras não descartou novos leilões na área do pré-sal. “O pessoal da geologia diz que ainda tem muito petróleo no pré-sal e pode ser que ainda gere um grande leilão”, afirmou ele.