O Globo, n. 32662, 09/01/2023. Política, p. 8

Ex-pre­si­dente nega par­ti­ci­pa­ção e faz para­lelo com esquerda

Jussara Soares
Gabriel Sabóia
Kathlen Barbosa


Mais de seis horas após o início dos atos terroristas em Brasília, o ex-presidente Jair Bolsonaro condenou a invasão e depredação de prédios públicos, negou ter responsabilidade, e comparou o episódio a manifestações da esquerda. Em publicação nas redes sociais, ele ainda rebateu acusações do presidente Lula.

Bolsonaro está nos Estados Unidos desde 30 de dezembro e não passou a faixa presidencial para Lula na cerimônia de posse, em 1º de janeiro, em mais um ataque à democracia.

“Manifestações pacíficas, na forma da lei, fazem parte da democracia. Contudo, depredações e invasões de prédios públicos como ocorridos no dia de hoje, assim como os praticados pela esquerda em 2013 e 2017, fogem à regra”, escreveu o ex-presidente em suas redes sociais na noite de ontem.

Na postagem, o ex-presidente disse que ao longo de seu mandato sempre atuou “dentro das quatro linhas da Constituição, respeitando e defendendo as leis, a democracia, a transparência e a nossa sagrada liberdade.”

Bolsonaro, contudo, levantou, sem provas, dúvidas sobre o processo eleitoral, participou de atos antidemocráticos e por diversas vezes deu declarações dúbias sobre uma possível intervenção das Forças Armadas.

Na publicação na noite de ontem, o ex-presidente repudiou as declarações de Lula de que ele estimulou a invasão e depredação do Palácio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). “No mais, repudio as acusações, sem provas, a mim atribuídas por parte do atual chefe do Executivo do Brasil”, escreveu.

“Inaceitável”

O governador do Distrito Federal divulgou um vídeo no qual pede desculpas a Lula; à presidente do STF, Rosa Weber; e aos presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSDMG) pelos atos terroristas.

— O que aconteceu foi simplesmente inaceitável. Vínhamos monitorando desde a tarde de ontem( sábado) juntamente com o ministro (da Justiça) Flávio Dino todos esses movimentos que estavam chegando ao Distrito Federal. Conversamos de ontem (sábado) pra hoje por várias vezes e não acreditávamos em momento nenhum que essas manifestações tomariam as proporções que tomaram —disse Ibaneis.

Na gravação, o governador, que é aliado de Bolsonaro, define os manifestantes que invadiram o Supremo , o Congresso e o Planalto como “vândalos e terroristas”.

— São verdadeiros vândalos. Verdadeiros terroristas que terão de mim todo o efetivo combate para que sejam punidos —afirmou, no vídeo.

As declarações de Ibaneis ocorrem após uma sequência de episódios em que o setor de segurança pública do governo do Distrito Federal foi considerado leniente com manifestações antidemocráticas e de caráter golpista. Na data da diplomação de Lula pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 12 de dezembro, bolsonaristas radicais já haviam provocado caos em Brasília comatos de vandalismo, que envolveram tentativas de invasão à sede da Polícia Federal.

Agravação de Ibaneisf oi divulgada ontem pouco depois de Lula ter decretado intervenção federal na área de segurança pública do Distrito Federal.

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra policiais militares do DF conversando com manifestantes enquanto uma multidão de apoiadores radicais de Bolsonaro invadia o Congresso. Ao compartilhar a imagem, bolsonaristas afirmam que os policiais “estão com o povo”. Também há imagens de policiais fazendo selfie durante os atos terroristas. Os manifestantes não tiveram dificuldade para furar o bloqueio montado pela PM e invadira rampa e a área superior do prédio do Congresso, além da Praça dos Três Poderes.