Valor Econômico, v. 20, n. 4878, 12/11/2019. Política, p. A7

Decano do STF critica ‘vozes autoritárias’ contra a imprensa

Gabriel Vasconcelos



O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello criticou ontem o que chamou de “vozes autoritárias” que se insurgem “contra a liberdade de imprensa” no país. Sem citar o presidente Jair Bolsonaro, o decano do STF disse que “temos que nos insurgir contra tentativas ou ensaios autoritários que buscam suprimir essa liberdade natural [de imprensa] que deve conviver com sociedades fundadas com bases genuinamente democráticas".

O decano do STF fez as declarações ao receber o “Prêmio ANJ de Liberdade de Imprensa” de 2019, da Associação Nacional de Jornais (ANJ). Com problemas no quadril, o ministro não esteve na premiação, mas gravou vídeo. O prêmio foi concedido no primeiro dia da Conferência Digital Media Latam, da Associação Mundial de Editores de Notícias (Wan-Ifra), no Rio.

Celso de Mello disse que “a ampla difusão da informação, o exercício irrestrito de criticar e a possibilidade de formular denúncias contra o Poder Público representam expressões essenciais dessa liberdade fundamental [de imprensa], cuja prática não pode ser comprometida por interdições censórias ou por artifícios estatais utilizados para coibir, po esse direito básico, inerente às formações sociais livres, não constitui concessão estatal, mas representa, sim, valor inestimável e insuprimível da cidadania”.

No evento, Bolsonaro foi criticado pelo vice-presidente da ANJ e presidente do grupo Estado, Francisco Mesquita Neto. “Um problema extremamente preocupante que vivemos hoje é que o presidente da República virou símbolo da hostilidade ao livre exercício do jornalismo. Com lamentável frequência, ele ataca jornalistas e empresas jornalísticas como se fossem inimigos a serem eliminados”, disse Mesquita.

O executivo disse enxergar ironia no fato dos ataques à imprensa partirem de quem aplaudia o trabalho dos jornalistas profissionais em governos anteriores. “Isso só confirma que o bom jornalismo muitas vezes desagradará quem está no poder porque busca desvendar aquilo que se pode pretender esconder”, afirmou. Citou levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas segundo o qual, desde o começo  de 2019, Bolsonaro fez 99 declarações contrárias à imprensa, duas a cada semana.