Valor Econômico, v. 20, n. 4878, 12/11/2019. Brasil, p. A5

Microcrédito terá R$ 40 bi, com foco nos 10 milhões mais pobres

Estevão Tair
Edna Simão
Mariana Ribeiro


O governo federal lançou ontem medida provisória (MP) com o objetivo de expandir o microcrédito no país. De acordo com o secretário especial de

Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Rogério Marinho, o governo estabeleceu um “compromisso” de ofertar R$ 40 bilhões em empréstimos para 10 milhões de pessoas “mais pobres” até o fim de 2022.

“Algumas dificuldades estão sendo eliminadas com a MP”, disse em cerimônia no Palácio do Planalto. A expectativa é que as mudanças também tenham impacto no mercado no trabalho, com a geração de 450 mil postos até 2022.

Para assegurar o aumento de recursos, uma resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN) deve elevar o percentual de depósitos à vista de 2% para 3% a quantia que os bancos são obrigados a direcionar para o microcrédito.

As alterações, de acordo com o secretário, foram discutidas com bancos, fintechs e com o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Ele afirmou que atualmente há dois “grandes players” no mercado - o Banco do Nordeste e o Santander - e que a tendência é que a MP amplie o número de agentes financeiros nesse nicho. O objetivo é incentivar a participação de bancos, fintechs, agências de fomento e cooperativas de crédito.

Questionado se esse tipo de operação é rentável para os bancos, ele admitiu que “hoje [o mercado] tem recursos empoçados”. Mesmo assim, afirmou que a quantia parada representa um percentual pequeno do total da carteira de microcrédito das instituições financeiras e que as operações são rentáveis.

“Dá trabalho, mas não é que não seja rentável”, afirmou o secretário. “Temos a convicção de que vai haver aumento substancial [no microcrédito].”

Ele também defendeu que as operações são benéficas para ambas as partes. Do lado das instituições financeiras, o índice de inadimplência é “baixíssimo”, na casa de 1%. Já os tomadores de empréstimos “estão sujeitos [atualmente] a um crédito que chega a 10% [de juros] ao mês na mão de agiotas”.

De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Economia, entre a população que recebe até um salário mínimo por mês, apenas 11% contraem empréstimos atualmente. Outro número destacado pelo órgão foi que o microcrédito representa apenas 0,2% (ou R$ 5,9 bilhões) do total do crédito nacional.