O Globo, n. 32659, 06/01/2023. Política, p. 5

Mais um acu­sado de che­fiar milí­cia fez cam­pa­nha para minis­tra

Rafael Soares


Outro acusado de chefiar uma milícia na Baixada Fluminense fez campanha e pediu votos para a ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União Brasil), a Daniela do Waguinho. Fábio Augusto de Oliveira Brasil, o Fabinho Varandão, ré una Justiça soba acusação de comandar um grupo paramilitar que monopoliza o sinal clandestino de TV e internet e a venda de gás de cozinha em dez bairros de Belford Roxo, participou na cidade de caminhadas, eventos em clubes e de um comício da então candidata a deputada federal, em setembro de 2022. Todas as atividades foram em locais que, segundo o Ministério Público do Rio (MP-RJ), são dominados por seu grupo.

“Orgulho em dizer que a nossa querida deputada federal Daniela do Waguinho foi anunciada como a nova ministrado Turismo pelo nosso presidente Lula ”, postou ele numa rede social após o petista tornar o comunicado oficial.

Brasil é vereador de Belford Roxo e foi preso em dezembro de 2018 numa operação da Polícia Civil e do MP-RJ. Segundo a decisão que decretou a prisão, da juíza Alessandra da Rocha Lima Roidis, da 1ª Vara Criminal de Belford Roxo, “imagens de câmera de segurança revelam que Fabinho Varandão impõe o terror no município, pois circula armado na região e conta com proteção de seguranças”.

Na ação que culminou na prisão de Brasil, a polícia apreendeu três armas, um colete à prova de balas e R$ 70 mil em espécie. Ele responde pelos crimes de extorsão e porte ilegal de arma de fogo.

Cargos na prefeitura

Solto em julho do ano seguinte, Brasil, desde então, responde ao processo em liberdade e precisa comparecer mensalmente ao fórum da cidade. Em 2020, ele foi reeleito como vereador mais votado de Belford Roxo, após fazer campanha com o prefeito Wagner Carneiro, o Waguinho, marido da ministra.

As acusações não impediram Brasil de ganhar vários cargos na prefeitura de Belford Roxo após a reeleição. Desde 2021, ele já foi nomeado, pelo prefeito, secretário de Defesa Civil, da Pessoa com Deficiência e, em maio do ano passado, de Ciência e Tecnologia.

Daniela Carneiro foi procurada para comentar a reportagem, mas não se manifestou. Já a prefeitura de Belford Roxo afirmou que “o nome do vereador não teve nenhum impedimento por parte da Justiça para assumir o cargo” e completou: “Sobre a prisão, compete à Justiça julgar o processo”.

As redes sociais de Brasil são repletas de fotos dele com Daniela e Waguinho, assim como postagens de apoio e em agradecimento à dupla. “Estar em meio aquela multidão em pleno Lote XV, compartilhando com toda a nossa gente as melhorias que este lugar e tantos outros de nossa querida Belford Roxo receberam. Um momento histórico de prestação de contas da atuação dos nossos queridos deputados, a federal, Daniela do Waguinho, e o estadual, Márcio Canella, que se dedicaram irrestritamente a esta cidade através de seus mandatos e tudo o que esteve ao seu alcance”, escreveu Brasil em setembro passado, após um comício no bairro Lote XV.

Mais apoio

Além de Brasil, o miliciano Juracy Alves Prudêncio, o Jura, fez campanha para Daniela e ganhou cargos na prefeitura. O ex-policial militar, condenado a 22 anos por homicídio, entregou santinhos ao lado da hoje ministra numa passeata na Baixada Fluminense em 2018. Na época, Jura estava preso em regime semiaberto, mas conseguiu autorização da Justiça para sair da cadeia para trabalhar e ganhou o cargo de diretor do Departamento de Ordem Urbana na prefeitura de Belford Roxo.

A ministra, o marido e o miliciano também posaram juntos para fotos feitas em outros momentos, como uma festa infantil. Segundo as sentenças que condenaram o ex-sargento da PM entre 2010 e 2014, Prudêncio era chefe do Bonde do Jura, uma milícia acusada de uma série de homicídios na Baixada Fluminense. Ele está preso desde 2009, quando foi o principal alvo da Operação Descarrilamento, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), que levou para trás das grades nove PMs acusados de integrar a milícia que ele chefiava.

Em nota, a ministra afirmou que “apoio político não significa que ela compactue com qualquer apoiador que porventura tenha cometido algum ato ilícito”.