O Globo, n. 32657, 04/01/2023. Política, p. 5

Nomeado na Embratur, Freixo deixa PSB para se filiar ao PT

Jan Niklas


Seis meses após entrar no PSB para disputar o governo do Rio de Janeiro, Marcelo Freixo anuncia agora que se filiará ao PT. Escolhido pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva para presidir a Embratur, a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo, ele explica que a mudança se dá por insatisfações com a antiga legenda. Além disso, enxerga o PT como único partido capaz de liderar alianças para derrotar o bolsonarismo nas próximas eleições.

— Preciso estar num lugar que tenha construção partidária, coisa que não teve no PSB. Um lugar que tenha trabalho de base. Era o que eu queria fazer no PSB, mas não foi possível, não era esse o projeto — afirma Freixo.

— Minha conversa com o PT é para fazer esse processo de formação política e construir uma frente democrática ampla liderada pelo partido onde eu possa ajudar.

Freixo entregou sua carta de desfiliação pessoalmente ao presidente do PS B, Carlos Siqueira, no dia 30 de dezembro, após o anúncio da escalação final da Esplanada dos Ministérios do governo Lula.

O parlamentar aponta que uma série de “erros”, em sua avaliação, motivou sua saída do ex-partido. Entre eles está a decisão de o PSB não entrar na federação com o PT. A essa escolha ele atribui o encolhimento expressivo da bancada da sigla na Câmara, que vai cair de 32 para 14 deputados em 2023.

— O PSB foi para um lugar em que não me enxergo mais —resume o político que antes era filiado ao PSOL, onde fez a maior parte de sua carreira.

Freixo cita ainda como motivo a postura do agora ex-correligionário, Alessandro Molon, que preside o PSB no Rio. Disputando o protagonismo na esquerda fluminense, eles vivem em clima de “guerra fria”.

Após um armistício que o levou a entrar para o mesmo parti dodo desafeto e disputaras últimas eleições, o clima entre os dois voltou a azedar coma decisão do pessebista em concorrer para a vaga ao Senado, mesmo como PT reivindicando uma candidatura única para fechara aliança no Rio.

Freixo disse ter comunicado sua decisão de se filiar ao PT a Lula no dia da posse em Brasília, no último domingo.

De acordo com seu cálculo político, o bolsonarismo seguirá como uma força política dominante mesmo após Jair Bolsonaro ter sido derrotado na Presidência. De olho na política fluminense, ele defende que o PT encampe uma oposição de frente ampla principalmente no Rio — berço político e reduto do ex-presidente.

— O PT vai liderar o enfrentamento ao bolsonarismo com trabalho de base e é aí onde eu quero estar. Vamos buscar eleger vereadores, prefeitos e vices no estado do Rio para enfrentar esse movimento na sua fonte —assegura.

Com nomes do PSB como Flávio Dino, Márcio França e vice-presidente Geraldo Alckmin na fila para compor o governo, ele diz que desde o início de seus trabalhos no grupo de transição do Turismo sabia que suas chances para conquistar um ministério eram quase “impossíveis”.

“Cabe a ela falar”

A pasta que era visada por ele acabou indo para Daniela Carneiro (União-RJ), nome de um partido fora da aliança de campanha do PT. Resignado, o deputado diz entender que a divisão dos cargos faz parte da composição partidária que dará sustentação ao governo Lula. A Embratur, que irá chefiar, fica vinculada ao Turismo.

Mesmo após vir à tona que Daniela fez campanha com um miliciano condenado por homicídio e que foi citado no relatório da CPI das Milícias produzido por ele, em 2008, na Alerj, Freixo nega que isso represente constrangimento na relação com a ministra.

— Cabe a ela falar sobre isso. Minha relação com ela é recente, mas muito boa e de muito diálogo. Não muda em nada e pelo que eu li da defesa, isso tinha mais a ver com a prefeitura (de Belford Roxo) do que com ela —justifica.

— Todo mundo sabe do meu nível de enfrentamento e o preço que paguei com as milícias. Óbvio que minha opinião sobre isso não muda, né?