O Estado de São Paulo, n. 46792, 27/11/2021. Política p.A14

 

Após testes, PSDB retoma votação de prévias com novo aplicativo

 

Marcelo de Moraes

 

Seis dias após suspender a consulta a filiados por problemas técnicos, o PSDB vai retomar suas prévias presidenciais hoje, na esteira de um processo marcado por muito desgaste. A ideia é concluir a votação no mesmo dia para já anunciar o candidato. Na avaliação da cúpula tucana, o PSDB tem perdido terreno político no momento em que outros "jogadores" da terceira via saem a campo.

Os governadores João Doria (São Paulo), Eduardo Leite (Rio Grande do Sul) e o exprefeito de Manaus Arthur Virgílio disputam as prévias. Tanto a equipe de Doria como a de Leite cantam vitória. Os três candidatos concordaram com a solução definida pela cúpula do PSDB, que escolheu a empresa Beevoter, aprovada nos testes de estresse feitos pelo partido para fornecer o aplicativo de votação.

"Há um absoluto consenso técnico entre o PSDB e as campanhas, referendando a solução técnica encontrada hoje", disse Bruno Araújo, presidente do partido.

Os postulantes à vaga de candidato tucano ao Palácio do Planalto, em 2022, intensificaram ontem mesmo a ofensiva pelo apoio dos filiados. Doria e Leite, que polarizam a disputa, haviam passado a semana divergindo das propostas apresentadas para retomar a votação, mas acabaram fazendo um acordo para cessar os ataques em público.

"Prévias engrandecem o PSDB no exercício da democracia e do voto dos seus filiados e mandatários. Viva a democracia!", afirmou Doria. "O mais importante foi alcançado: segurança de que os votos serão sigilosos! Que cada tucano vote com o coração e esperança! Vamos juntos pra uma candidatura com a cara do PSDB. Vamos ao voto", disse Leite.

 

CAMPANHAS. O governador gaúcho tem divulgado uma previsão da Eurasia, que o aponta como favorito. Já a campanha de Doria estima que o governador paulista conseguirá vencer com 61,39% dos votos, contra 36,77% de Leite e 0,98% de Arthur Virgílio.

"Talvez esse dado seja até por baixo porque houve uma percepção de mais crescimento", previu o ex-ministro Antonio Imbassahy, um dos coordenadores da campanha de Doria. Do outro lado, os aliados de Leite mantém o otimismo. "O Brasil espera realmente uma coisa nova, um momento novo. Eduardo Leite representa dinamismo, juventude, força de vontade, postura e mentalidade para a mudança que o País precisa", defendeu o senador Tasso Jereissati (PSDBCE), que abriu mão de sua candidatura para apoiar o governador do Rio Grande do Sul.

As prévias do PSDB foram interrompidas no domingo passado por causa de um problema no aplicativo de votação, desenvolvido pela Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs). Desde então, a cúpula do PSDB vem testando empresas para substituir a ferramenta on line com segurança. Em nota, a Faurgs chegou a afirmar que considerava "muito plausível" ter ocorrido "um ataque de hackers" naquele dia. A Polícia Federal investiga essa possibilidade.

Com isso, a disputa interna acabou se tornando ainda mais acirrada, especialmente pela troca de acusações entre Doria e Leite. Aliados do gaúcho levantaram a hipótese de compra de votos pela campanha do paulista. A equipe de Doria, por sua vez, disse que o correligionário é manipulado pelo deputado Aécio Neves (MG). Virgílio se juntou a Doria para afirmar que Leite era um "ventríloquo" de Aécio. Os dois acusaram o grupo do governador gaúcho de agir para "melar" uma candidatura do PSDB à Presidência.

 

CRONOLOGIA

Meses de disputa e forte 'estresse' na sigla tucana

• Aplicativo

O aplicativo escolhido em maio para ser usado na votação foi a primeira divergência explícita entre os concorrentes João Doria (contra), Eduardo Leite (favor)

 

• Fundação

Em julho, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, lança uma carta-convite chamando instituições a desenvolver o aplicativo. Apenas a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul aceita o desafio

 

• Cadastro

Em outubro, os filiados são convocados a se cadastrar no aplicativo e surgem os primeiros problemas, como dificuldade para baixar em celular

 

• Alerta

Identificadas brechas no sistema de segurança e cúpula tucana discute adiar votação

 

• Votação

App trava no dia da votação e eleitores não conseguem registrar voto

 

• Hacker

Empresa escolhida como plano B para a votação também falha e direção do PSDB suspeita de ataque hacker

 

• Plano C

PSDB anuncia 'plano C' e a retomada da votação, marcada para hoje

 

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Moro é agente do campo do centro e vai jogar junto'

 

Bruno Araújo , Presidente nacional do PSDB 

 

Com a retomada das prévias tucanas hoje, o presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, avalia que o candidato escolhido pelo partido será competitivo na disputa pelo Palácio do Planalto e não enxerga o ex-juiz da Lava Jato Sérgio Moro como rival. Na avaliação de Araújo, o novo político do Podemos é alguém que vai "jogar junto".

 

O PSDB não demorou tempo demais para colocar o bloco na rua com a sua candidatura?

Sobre pôr o bloco na rua, primeiro digo que Bolsonaro e Lula já são candidatos desde que começou o mandato. Bloco na rua posto é o do PSDB, que em abril convocou prévias. Fora a exposição do presidente da República, nenhum candidato tem tido o grau de exposição ou feito campanha como os três candidatos do PSDB. E, de modo especial, os dois governadores que têm um grau de visibilidade maior, como é o caso de João Doria e Eduardo Leite.

 

Existem dúvidas no meio político sobre se uma candidatura tucana terá musculatura suficiente para decolar. Como o senhor vê esse ceticismo?

Um ano é um tempo calibrado para permitir que o candidato não se exponha à chuva e ao sol de forma demasiada e suficiente para chegar com as costuras e a exposição necessárias. Agora, precisamos de tempo para entender até maio, junho do ano que vem, como todo o quadro se consolida. É importante entender que, na tradição do eleitorado, um candidato que nunca disputou uma eleição nacional só vai atingir conhecimento faltando 15 dias para as eleições.

 

Não existe risco de o PSDB repetir 2018, quando houve a expectativa de que Alckmin ia decolar em algum momento e esse momento não chegou?

Em 2022 vai ser justamente o contrário. Nós temos números muito parecidos entre os candidatos do campo do centro e a confiança de que, mais perto da eleição, haverá a migração do voto útil para uma candidatura do PSDB ter a possibilidade de vencer contra quem for para o segundo turno.

 

A candidatura de Sérgio Moro preocupa o PSDB?

Acho que a candidatura do Moro tem um papel muito importante nesse papel de discussão e construção. Moro é visto como um agente catalisador do campo do centro, e não como adversário. Ele é visto como um protagonista que vai jogar junto para permitir que haja um segundo turno diferente dessa polarização. / M.M.