O Globo, n. 32655, 02/01/2023. Política, p. 12

Pelo fim do isolamento

Eliane Oliveira
Mariana Muniz
Sérgio Roxo


Com a promessa de campanha de reinserir o Brasil entre os principais atores da comunidade internacional, após isolamento causado por seu antecessor, Jair Bolsonaro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu os cumprimentos de representantes de mais de 120 países, em uma cerimônia realizada na noite de ontem no Palácio do Itamaraty. Entre os membros das delegações que viajaram a Brasília para cumprimentar Lula estavam 21 chefes de Estado, além de vice-presidentes e outras autoridades.

Em seu terceiro mandato, o petista terá o desafio de tirar o país de um isolamento internacional, resultado da política externa do governo Bolsonaro. Por isso, a presença de autoridades estrangeiras era visto como um momento chave do dia da posse.

O primeiro chefe de Estado achegarà recepção foi o presidente de Portugal Marcelo Rebel ode Sousa, seguido do argentino Alberto-Fernán dez. Ambos, porém, deixaram a solenidade antes da chegada do presidente brasileiro, que atrasou cerca de duas horas. Ao entrar no Palácio do Itamaraty, Lula foi recebido aos gritos de “olé olê olá Lula” e “Lula guerreiro do povo brasileiro”.

Até as 22h, Lula não havia circulado pelo salão onde estavam os convidados — ficou numa sala restrita. Já o vice e ministro Geraldo Alckmin atravessou o salão recebendo parabéns e parado para fotos.

Realizada no mezanino do Palácio, a recepção proporcionou encontros entre inimigos, como os representantes de Ucrânia e Rússia — que não se aproximaram ou se cumprimentaram.

Entre as ausências, a mais marcante foi a do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que desistiu de viajar a Brasília e enviou Jorge Rodriguez, presidente da Assembleia venezuelana.

Uma portaria que proibia o ingresso do líder do regime venezuelano e de outras autoridades do país vizinho foi revogada na véspera, e Maduro chegou a confirmar presença no evento, mas depois mudou de ideia.

Potências presentes

Um dos fatores que influenciaram a decisão de Maduro foi a insegurança em relação ao reabastecimento da aeronave venezuelana. Por temer sanções comerciais, a distribuidora responsável pelos fornecimento de combustíveis em Brasília não deu garantias de que atenderia o avião do líder do país vizinho. A informação foi antecipada pelo Valore confirmada pelo GLOBO junto a integrantes do Itamaraty.

Entre as principais potências, a China enviou o vice Wang Qishan. O país asiático quer fortalecer as relações após um período conturbado, principalmente no início do governo do presidente Jair Bolsonaro.

Recebido por Lula em um encontro bilateral no sábado, o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier vai aproveitar avinda para visitara Amazônia hoje.

Os Estados Unidos enviaram uma missão chefiada pela secretária do Interior, Deb Haaland. Trata-se da primeira mulher de origem indígena a ocupar um posto no primeiro escalão do governo americano. Ela é crítica contumaz de Bolsonaro. Junto com ela estava o diretor sênior para Assuntos do Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional, Juan Gonzalez.

O rei da Espanha, Filipe VI veio com dois ministros do governo Pedro Sánchez. O presidente da França, Emmanuel Macron — desafeto de Bolsonaro, que telefonou para Lula, assim que saiu o resultado da eleição —decidiu enviar o ministro-delegado encarregado do Comércio Exterior, da Atratividade e dos Franceses no Exterior, Olivier Becht. Já o Reino Unido foi representado pela ministra Thérès e Coffey, de Meio Ambiente, Alimentação e Assuntos Rurais.

Lula teve alguns encontros bilaterais, no sábado, no hotel onde está hospedado em Brasília, mas deve realizar mais reuniões com autoridades estrangeiras hoje. Alista inclui o rei da Espanha e os presidentes da Colômbia (Gustavo Petro), do Equador (Guillermo Lasso), do Chile (Gabriel Boric), de Angola (João Lourenço), do Timor Leste (José Ramos-Horta) e da Argentina (Alberto Fernández).