Valor Econômico, v. 20,
n. 4875, 07/11/2019. Política, p. A14
A parlamentares, Heleno
descarta ditadura
Marcelo Ribeiro
Raphael Di Cunto
O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno,
afirmou ontem que o governo do presidente Jair Bolsonaro e as Forças Armadas
não têm a intenção de estabelecer uma ditadura. A declaração foi feita durante
participação do ministro na Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento
regional e da Amazônia da Câmara dos Deputados.
“Essas angústias quanto
a regime ditatorial, a autoritarismos, a exorbitâncias em termos de condução do
governo, posso garantir a todos que, em relação aos militares das três Forças,
a minha geração e as gerações que me sucederam estão completamente vacinadas
contra qualquer sintoma de ditadura, dessas coisas que muitas vezes são
bandeiras para que para quem não tem muita coisa para inventar”, disse Heleno.
Segundo o titular do
GSI, “isso [estabelecer uma ditadura] não está na cabeça do governo, de nenhum
integrante do governo e de nenhum membro das Forças Armadas. Não temos vocação
para esse tipo de atitude”.
Sobre monitoramento dos
movimentos sociais, em especial dos povos indígenas e do Sínodo da Amazônia,
Heleno disse que “não há monitoramento de pessoas”. “Não tem história de 007,
de agente secreto, de infiltração, de colocar gente disfarçada em lugares para
monitorar. Isso é coisa de filme. Em nossa administração não acontece”.
Heleno pediu que as
pessoas deixem o presidente governar e afirmou que o governo tem sido vítima de
“uma orquestração descabida”. “Vamos deixar o governo Bolsonaro governar quatro
anos. Governaram 20 anos e jogaram o país num abismo. Deixem a gente governar
por quatro anos. Depois, vocês metem o pau”, disse.
Confrontado pela
deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP),
o ministro do GSI não quis fazer um repúdio público à declaração do líder do
PSL na Câmara, Eduardo Bolsonaro (SP), de que um novo AI-5 seria instaurado
caso a esquerda radicalizasse. Para Heleno, o fato de o filho do presidente
Jair Bolsonaro recuar após a repercussão negativa já foi o suficiente. O
ministro chegou a ironizar a parlamentar do Psol,
questionando se ela o torturaria para que ele repudiasse a declaração de
Eduardo.
“Eu não vou repudiar,
porque ele já repudiou. Ele disse que falou uma coisa que não é o que ele
pensa. Não vou falar mais nada. A senhora vai me torturar para eu falar?”, questionou Heleno, arrancando risadas de
parlamentares da base governista e provocando a irritação de deputados da
oposição.
Ele afirmou ainda que
não concordava com a posição de Sâmia de que a
ditadura foi um “golpe” e afirma que prefere chamar o regime de
“contrarrevolução”, que, em sua avaliação, foi determinante para que o Brasil
não se transformasse em Cuba.
“Há duas visões da
história do Brasil. Para mim, não foi golpe, foi contrarrevolução. Se não
houvesse contrarrevolução, hoje seríamos Cuba. A sua posição é a posição que a
esquerda adotou. Essa radicalização não interessa a ninguém”, disse Heleno.
O ministro afirmou que
já viu muito mais manifestações antidemocráticas sendo feitas por
representantes do campo da esquerda do que de nomes da direita. “Concordo que
algumas manifestações são ostensivamente contrárias ao regime democrático e não
devem ser incentivadas. Só que eu já escutei muito mais manifestações desse
tipo de alguns integrantes da esquerda
brasileira nos últimos tempos”, disse.