O Estado de São Paulo, n. 46785, 20/11/2021. Internacional p.A20

 

Júri absolve jovem branco que matou dois manifestantes antirracistas nos EUA

 

Questão Racial

Kyle Rittenhouse usou um AR-15 para disparar contra ativistas que protestavam contra a desigualdade racial

 

Beatriz Bulla

 

Um júri de 12 pessoas absolveu por unanimidade ontem Kyle Rittenhouse, jovem branco de 17 anos que matou dois manifestantes antirracismo no ano passado em Kenosha, Estado de Wisconsin. Armado com um fuzil AR-15 munido com 30 balas, ele alegou que estava se defendendo da perseguição de manifestantes.

"Eu fiz o que tinha de fazer para parar a pessoa que estava me atacando", disse Rittenhouse durante o julgamento. Promotores do caso alegaram que as vítimas tentavam impedir o jovem de disparar o fuzil. Contra uma das vítimas, ele disparou quatro vezes. Em vídeos divulgados na época, ele aparece carregando ostensivamente o AR-15 entre manifestantes que correm atrás dele.

Os EUA viveram um verão de agitação social em 2020, quando manifestações antirracismo se espalharam pelo país após o assassinato de George Floyd, em maio. Em 23 de agosto, quando Jacob Blake, negro de 29 anos, foi baleado pelas costas por um policial branco com sete tiros à queima-roupa, Kenosha se tornou epicentro do movimento antirracismo.

A cidade de 100 mil habitantes virou palco de confrontos entre policiais e manifestantes, com cenas de tiros e correria nas ruas e prédios queimados. Em 25 de agosto, Rittenhouse, que vivia em uma cidade vizinha no Estado de Illinois, decidiu sair armado de casa para confrontar os manifestantes.

 

DIVERGÊNCIAS. O fuzil foi comprado em maio, a pedido dele, por um amigo. Na época, Rittenhouse foi descrito pela polícia como um jovem perturbado e fanático pelo movimento Blue Lives Matter – "vidas azuisimportam", referência à cor do uniforme dos policiais. A absolvição tem potencial para inflamar de novo as ruas americanas.

Grupos de extrema direita, que defendem o direito ao porte de arma, celebraram o veredicto. "Foi uma vitória do direito de todas as pessoas se defenderem", dizia uma das mensagens no Telegram.

Ativistas do movimento pela igualdade racial, no entanto, reclamaram do preconceito sistêmico da Justiça americana e do fato de o júri ser quase inteiramente branco. "Estou desapontado e esperava um veredicto diferente", afirmou Veronica King, membro da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP). "Precisamos exigir diversidade nos júris." Já o presidente dos EUA, Joe Biden, preferiu defender a decisão do tribunal. "O sistema funciona", disse.