Valor Econômico, v. 20, n. 4872, 02/11/2019. Especial, p. A16

Debate sobre o tema ganha destaque no FMI e avança no mundo

Ana Conceição



Promover a igualdade de gênero no mercado de trabalho, na academia e no governo tem benefícios comprovados sobre a economia, mas chegar lá é um desafio constante, como mostra a experiência da Noruega, um dos países que estão na vanguarda do tema no mundo.

 E o tema ganhou novos holofotes neste fim de 2019. Em meados de outubro, a economista búlgara Kristalina Georgieva escolheu a desigualdade de gênero como tema de seu primeiro discurso, após a posse como diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), e indicou que o combate ao problema será uma de suas principais plataformas. O trabalho deve começar dentro de casa, porque apenas 25% dos cargos mais altos da instituição são ocupados por mulheres, disse ela.

Na mesma semana em que Georgieva fazia sua estreia, a filantropa Melinda Gates se comprometeu a investir US$ 1 bilhão em políticas de combate à desigualdade de gênero no ambiente de trabalho nos Estados Unidos.

Em seu discurso sobre gênero, Georgieva, segunda mulher a chefiar o Fundo, afirmou que diversos estudos econômicos mostram que avanços na igualdade de gênero impulsionariam o crescimento. Ela citou estudos do FMI dizendo que as empresas aumentariam os resultados de 8% a 11% se tivessem mulheres em seus conselhos ou diretoria. A dirigente é uma entusiasta do sistema de cotas. “Sou a favor de cotas porque, caso contrário, levaremos muito tempo para chegar aonde queremos.” A antecessora de Georgieva no FMI, a francesa Christine Lagarde, também tinha na igualdade de gênero uma de suas principais bandeiras.

Segundo relato da agência Reuters, quando assumiu a diretoria-executiva do Banco Mundial em 2017, Georgieva estabeleceu a meta de alcançar a paridade de gênero nas principais funções em três anos. O banco bateu a meta dois anos antes do previsto.

Apesar de alguns avanços, as diferenças entre homens e mulheres em termos de participação na força de trabalho continuam grandes. Para citar um exemplo, segundo o FMI, nenhuma economia avançada ou de renda média conseguiu reduzir essa diferença para menos de sete pontos percentuais. A desigualdade de participação e de renda tem um custo econômico considerável, pois prejudica a produtividade e pressiona o crescimento.

Em um estudo recente do FMI, constatou-se que as barreiras ao ingresso das mulheres na força de trabalho têm um custo mais alto do que o sugerido por estudos anteriores e que os benefícios de eliminar as diferenças de gênero são ainda maiores que se imaginava.

Segundo o estudo, uma variedade de dados macro e microeconômicos sugere que as mulheres e os homens se complementam no processo de produção. A implicação é que há um valor para diversidade: adicionar mais mulheres à força de trabalho deve induzir ganhos maiores do que um aumento igual de trabalhadores do sexo masculino.