O Estado de São Paulo, n. 46781, 16/11/2021. Política p.A7

 

Bolsonaro dá prazo ao PL e cita conversas com outros partidos

 

Felipe Frazão

Lauriberto Pompeu

 

Um dia depois de suspender sua filiação ao Partido Liberal (PL), o presidente Jair Bolsonaro disse ontem que existe a possibilidade de ingressar em outra legenda do Centrão. Ele relatou ainda manter conversas paralelas e que segue vivo o interesse do Progressistas e do Republicanos em abrigar seu projeto de reeleição.

O presidente indicou estar disposto a esperar "pouquíssimas semanas" para concluir as negociações com o PL, comandado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado e preso no mensalão. "Eu tenho um limite. Espero, em pouquíssimas semanas, duas ou três, no máximo, casar ou desfazer o noivado. Mas acho que tem tudo para a gente se casar e ser feliz", disse Bolsonaro, durante entrevista em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

Segundo o presidente, a conclusão das conversas depende da disposição do PL de desistir de apoiar adversários políticos dele, principalmente na esquerda, e de participar de palanques estaduais que possam beneficiar rivais como o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). "Nosso partido não pode estar flertando com a esquerda num ou outro Estado. Se resolvermos isso aí, eu assino essa filiação que me satisfaz e satisfaz em grande parte o nosso eleitorado, que quer a continuidade da minha política", afirmou.

O presidente disse ter conversado nos últimos dias sobre o assunto com os ministros da Casa Civil, Ciro Nogueira (Progressistas), das Comunicações, Fábio Faria (PSD), e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho.

 

ACORDOS. Os principais entraves à filiação são as composições políticas do PL em São Paulo, Bahia, Pernambuco e Piauí. Na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, a ideia do Planalto é forçar o PL a desfazer o acordo para apoiar a candidatura do vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB).

"Tem alguns Estados que, para mim, se eu vier (a ser) candidato, são vitais, como São Paulo. Ele (Valdemar Costa Neto) tem um compromisso com um candidato que vai apoiar o atual governador (Doria) se ele tiver o espaço no partido dele (para concorrer a presidente)", declarou Bolsonaro.

O PL não decidiu como vai atender às solicitações, mas trabalha por um acordo. O presidente do partido pediu um tempo a Bolsonaro para poder administrar internamente a questão. Uma reunião com o comando da legenda e as bancadas na Câmara e no Senado está marcada para amanhã, na sede do PL em Brasília.

Integrantes do partido avaliam que um acordo só vai começar a ser desenhado após uma conversa cara a cara entre Bolsonaro e Valdemar Costa Net. O chefe do Executivo volta ao Brasil na quinta.

Segundo o deputado José Rocha (PL-BA), que foi líder do partido e vice-líder do governo, não existe rompimento e ainda há chance de acordo. "Valdemar disse que está tudo acertado, combinado, que vamos nos sentar, conversar. Não ficou nada estremecido, não", afirmou. Valdemar Costa Neto não foi localizado.

 

SÃO PAULO. As prévias presidenciais do PSDB também pesam na decisão do PL. A definição da candidatura tucana ao Palácio do Planalto está marcada para o dia 21 e é citada como um dos motivos do adiamento da cerimônia de filiação, antes marcada para o dia 22.

Se Doria for escolhido, Garcia se torna o candidato natural do PSDB ao governo paulista, o que dificulta um acordo entre Bolsonaro e o PL. Já se o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, vencer, o PL vê mais possibilidade de arranjar motivos para romper com o PSDB, já que haveria uma indefinição sobre a candidatura tucana no Estado.

No Piauí, o partido está aliado ao governador Wellington Dias (PT). Na Bahia, embora o PL planeje se aliar ao ex-prefeito de Salvador ACM Neto (DEM) para o governo estadual, há ainda uma ala da legenda que é próxima do governador Rui Costa (PT).

 

'PALAVRA'. Bolsonaro disse que pretende lançar candidatos em quase todos os Estados, em especial São Paulo, por causa do eleitorado de 30 milhões de pessoas. "Valdemar é uma pessoa de palavra. Ele disse que está buscando a negociação e não conseguiu ainda a garantia de que possa desfazer o que fez no passado", afirmou. O nome preferido do presidente para a disputa no Estado é do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas. 

 

CRONOLOGIA

A busca do presidente por um partido

• Novembro de 2019

Em crise com o chefe do PSL, deputado Luciano Bivar, o presidente Jair Bolsonaro anuncia que decidiu deixar o partido e que vai criar uma nova legenda, chamada Aliança pelo Brasil.

 

• Julho de 2020

Em nove meses, os organizadores do Aliança pelo Brasil conseguem 16 mil assinaturas consideradas válidas, apenas 3,2% do que é necessário para tirar o partido do papel.

 

• Maio de 2021

Bolsonaro diz que está "namorando" o então senador Ciro Nogueira (PP-PI) e pode retornar ao Progressistas. No mesmo mês, após negociações, Bolsonaro desiste de migrar para o PRTB após a viúva de Levy Fidelix negar a pedido do presidente para ter o comando do partido.

 

• Junho de 2021

Possível filiação de Bolsonaro ao Patriota esbarra em um racha interno na legenda e negociação não avança.

 

• 1º de novembro de 2021

Bolsonaro diz que "tem três partidos que me querem". "São três namoradas", afirma o presidente, se referindo a Republicanos, PL e PP.

 

• 8 de novembro

Bolsonaro acerta ida ao PL e o dono do partido, Valdemar Costa Neto (foto), diz que já prepara o evento de filiação.

 

• 14 de novembro

Por divergências em alianças nos Estados, Bolsonaro suspende sua filiação ao PL.

 

• Ontem

O presidente indica que mantém conversas com outros partidos do Centrão e diz que só haverá uma definição em relação ao PL se a sigla desistir de apoiar adversários dele.

 

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'Não há nada que não possa ser reconciliado', diz Lula sobre Alckmin

 

Em visita ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem ter "extraordinária relação de respeito" com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB), apontado como possível vice na chapa encabeçada pelo petista à Presidência em 2022.

"Não há nada que não possa ser reconciliado", disse o petista ao lembrar que concorreu contra ele em 2006. A declaração foi feita três dias após Alckmin ter afirmado que ficou "muito honrado" por ser citado para a vaga./ LEVY TELES