Valor Econômico, v. 20, n. 4871, 01/11/2019. Política, p. A10

A pedido do pai, Eduardo se retrata
Cristiane Agostine 



O filho do presidente Jair Bolsonaro e líder do PSL na Câmara, Eduardo Bolsonaro (SP), gerou reações indignadas ontem até mesmo de apoiadores do governo federal ao defender um novo Ato Institucional nº5 (AI-5) como resposta a eventuais protestos no país. Eduardo afirmou que se a “esquerda radicalizar” no Brasil, com manifestações nas ruas, com manifestações nas ruas, uma das respostas poderá ser a reedição do AI-5. Diante da repercussão negativa da declaração, o deputado foi pressionado por Bolsonaro a pedir desculpas. No fim do dia, em entrevista, Eduardo acatou o pedido do pai e se retratou.

Em uma entrevista de 53 minutos à jornalista Leda Nagle, gravada na segunda-feira e divulgada ontem, Eduardo criticou os protestos no Chile contra o governo do presidente Sebastián Piñera e disse que se no Brasil as manifestações populares tomarem as ruas, será preciso dar “uma resposta”.

“Vai chegar o momento em que a situação vai ser igual a dos anos 60 no Brasil, quando [a esquerda] sequestrava aeronaves, grandes autoridades, cônsules, embaixadores, [tinha] execução de policiais, de militares. Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente vai precisar ter uma resposta”, afirmou Eduardo.  “E essa resposta pode ser via um novo AI-5, pode ser via uma legislação aprovada através de um plebiscito, como ocorreu na Itália. Alguma resposta vai ter que ser dada porque é uma guerra assimétrica. Não é uma guerra onde você está vendo seu oponente do outro lado”, disse o deputado. “Espero que não chegue a esse ponto, mas a gente tem que estar atento.”

Na sequência, a jornalista lembrou de uma outra declaração polêmica de Eduardo, divulgada no ano passado, quando o filho do presidente afirmou que bastava “um cabo e um soldado” para fechar o Supremo Tribunal Federal. Eduardo deu risada e disse que sua declaração havia sido tirada do contexto. No entanto, o parlamentar se retratou à época.

A declaração sobre o AI-5 divulgada ontem gerou uma onda de críticas e Eduardo recuou, sob pressão do presidente. “Eu talvez tenha sido infeliz em falar do AI-5, porque não existe qualquer possibilidade de retorno do AI-5”, afirmou o deputado, em entrevista ao vivo ao jornalista José Luiz Datena, na TV Bandeirantes. Minutos antes, Jair Bolsonaro também deu entrevista ao vivo a Datena, para desautorizar a fala de seu filho.

Eduardo afirmou que “não convém” radicalizar, mas só pediu desculpas depois que Datena falou claramente sobre a orientação de Bolsonaro. “O senhor está pedindo desculpas como seu pai aconselhou, é isso?”, questionou o apresentador. ““Sim, eu peço desculpas a quem por ventura tenha entendido que eu estou estudando o retorno do AI-5 ou achando que o governo de alguma maneira, estaria estudando qualquer medida nesse sentido”, disse Eduardo. O deputado afirmou que a polêmica se deu porque houve uma “interpretação deturpada” de sua fala.

Na terça-feira, Eduardo já havia dado uma declaração na mesma linha, ao discursar no plenário da Câmara, quando disse que a “história vai se repetir” se o Brasil tiver protestos como os do Chile. “Não vamos deixar isso aí vir para cá. Se vier para cá, vai ter que se ver com a polícia. E se eles começarem a radicalizar do lado de lá, a gente vai ver a história se repetir. Aí é que eu quero ver como a banda vai tocar”.