Valor Econômico, v. 20, n. 4871, 01/11/2019. Brasil, p. A4

Busca por trabalho cresce no 3º tri, e desemprego fica estável

Thais Carrança
Juliana Schincariol


A taxa de desemprego ficou em 11,8% no trimestre encerrado em setembro, mesmo patamar de julho e agosto e acima do esperado pelo mercado (11,6%). Com 12,5 milhões de desempregados, o país registrou no terceiro trimestre novos recordes de trabalhadores sem carteira assinada (11,8 milhões) e por conta própria (24,4 milhões).

Para economistas, a participação no mercado de trabalho em nível recorde explica a estabilidade da taxa de desemprego, mesmo com a população ocupada também em sua máxima histórica. Adiante, os analistas esperam que a taxa de desocupação volte a cair muito lentamente, o que deve contribuir para manter a inflação bem comportada por mais tempo.

A população ocupada chegou a 93,8 milhões no terceiro trimestre. Este é o maior número de pessoas trabalhando já registrado no país, conforme a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, iniciada em 2012.

Ao mesmo tempo, a taxa de participação na força de trabalho - soma de pessoas empregadas e em busca de trabalho, em relação à população em idade de trabalhar total - está em 62,1%, também no nível máximo da série histórica.

Como a taxa de desemprego é uma proporção entre o número de desempregados e a soma de empregados e desempregados (força de trabalho), uma maior participação na força de trabalho dificulta a queda da taxa, mesmo que a ocupação esteja crescendo.

Para Cosmo Donato, economista da LCA Consultores, dois fatores explicam a taxa de participação recorde no momento atual. Por um lado, com o desemprego e informalidade ainda elevados, mais membros das famílias estão trabalhando ou em busca de emprego para recompor o nível de renda. Por outro lado, com a melhora recente do mercado de trabalho, pessoas que haviam desistido estão agora voltando à busca por emprego.

Os desalentados - essas pessoas que desistiram de procurar trabalho -, chegaram a um recorde de 4,9 milhões no trimestre encerrado em maio. Esse número está em ligeira queda desde então, somando 4,7 milhões no trimestre fechado em setembro.

Para Luka Barbosa, economista do Itaú, também há outro efeito que explica, nos dados mais recentes do mercado de trabalho, a estabilidade da taxa de desemprego. Segundo cálculo do banco, mesmo com ajuste sazonal, a taxa ficou estável em 12% na passagem de agosto a setembro.

A série dessazonalizada pelo Itaú mostra um princípio de troca de trabalhos sem carteira por empregos formais nos últimos dois meses. Segundo esses dados, o emprego formal cresceu 0,14% e 0,15% em agosto e setembro, em relação aos meses anteriores, enquanto o emprego sem carteira recuou 0,26% e 0,05%.

“Vemos a taxa de desemprego continuando a cair devagar, mesmo com a aceleração da economia”, diz Barbosa. “A taxa de desemprego elevada não é um sinal de que a economia não esteja melhorando, isso é evidente nos dados do Caged nos últimos meses.” Em agosto e setembro, foram geradas 121 mil e 157 mil vagas de trabalho com carteira, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Segundo os economistas João Mauricio Lemos Rosal e Homero Guizzo, da Guide Investimentos, o aumento da participação no mercado de trabalho também ajuda a explicar a fraqueza dos rendimentos. A renda média real ficou em R$ 2.298 em setembro, estável em relação ao trimestre anterior e alta de apenas 0,1% na comparação anual. “Desde fevereiro, o aumento na oferta de trabalho tem pressionado a renda real”, observam.

Com a taxa de desemprego acima do esperado em setembro, alguns analistas revisaram suas estimativas para o indicador ao fim de 2019. “Embora a taxa deva cair até o final do ano, por causa da contratação de temporários, ela deve encerrar 2019 em patamar mais alto do que esperávamos”, diz Mauricio Nakahodo, economista do Banco MUFG Brasil.

O MUFG projetava anteriormente uma taxa de desemprego média de 11,8% em 2019, ante 12,3% em 2018. Agora, Nakahodo avalia que esse número deve ficar mais próximo de 12%. Para dezembro, a expectativa era de 11%, que agora deve ser elevada a 11,3%.

Assim, a taxa de desemprego deve continuar caindo em ritmo lento. “Primeiro, o número de trabalhadores desalentados mantém-se bastante alto e parte deles tende a procurar emprego em épocas de maior crescimento do PIB”, observa Nakahodo, que espera um avanço de 2,8% da economia em 2020. “Em segundo lugar, os empresários precisam ter mais confiança na tendência de crescimento econômico e, portanto, no potencial de expandir seus negócios para contratar mais trabalhadores registrados, e esse movimento pode ocorrer gradualmente.”