Valor Econômico, v. 20, n. 4891, 30/11/2019. Brasil, p. A2

Após sinalizar saída, Mansueto diz que fica no governo

Ribamar Oliveira
Fabio Graner 



O secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, manifestou a intenção de deixar o governo, informaram fontes credenciadas ao Valor. O ministro da Economia, Paulo Guedes, pediu a seus assessores e a amigos do secretário que o convencessem a permanecer, pois considera o trabalho dele essencial para a continuidade do programa de ajuste fiscal e das reformas. Assim, Mansueto decidiu ficar e apenas tirará férias na virada de ano, até 12 de janeiro.

Procurado antes de o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, publicar a informação na última sexta-feira, Mansueto não havia se manifestado sobre a hipótese de saída. Horas depois de a nota ter sido publicada, contudo, o secretário disse ao Valor que continuará no cargo, embora pretenda que Paulo Guedes seja o último ministro com quem trabalhe no setor público.

Informações de bastidores apontavam que, apesar do prestígio que mantém com o ministro, Mansueto teve alguns atritos internos, demonstrando nas reuniões do Ministério da Economia algum desconforto na equipe, a partir de temas como desvinculação total do Orçamento, liberação de recursos a Estados e municípios sem garantia prévia de  comprometimentos fiscais (como ocorreu no caso do leilão da cessão onerosa). Ele teve, inclusive, desentendimentos com o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, a quem formalmente está subordinado, embora na prática se reporte diretamente a Guedes.

Apesar de já estar há quatro anos no Ministério da Economia (ele trabalhou antes no Ministério da Fazenda, que neste ano foi integrada à nova pasta) e de não se ver envelhecendo no setor público, Almeida disse ao Valor que vai permanecer no cargo.

O secretário afirmou não ter manifestado intenção de sair diretamente ao ministro. “Mas acho que alguns dos meus amigos devem ter falado a ele que não acreditavam que eu passaria muito tempo no governo”, explicou. “Não tenho planos de sair”, disse Mansueto na noite de sexta-feira.

“Ainda tenho muita coisa para fazer no Tesouro, pois quero melhorar os relatórios e tentar começar um relatório adicional olhando para as contas fiscais mais no médio prazo. Quero ainda tentar resolver a questão do ajuste fiscal dos Estados com o PEF [Plano de Promoção do Equilíbrio Fiscal] e com o RRF [Regime de Recuperação Fiscal] e, mais importante, ajudar o governo a aprovar as mudanças estruturais relacionadas ao ajuste fiscal”, acrescentou.

Embora admita que o dia a dia da Secretaria do Tesouro seja, em alguns momentos, “bem pesado”, Mansueto diz que o total apoio da sua equipe, dos colegas de ministério e do ministro o gratifica muito. “A minha relação com Guedes é tão boa quanto a que tive com Meirelles [ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles] e com Guardia [ex-ministro da Fazenda Eduardo Guardia]”, observou. “Paulo Guedes me dá total liberdade para debater qualquer assunto e temos excelente relacionamento, a ponto de podermos até discordar algumas vezes e, quando isso acontece, aprofundamos o debate até chegarmos a um consenso.”

Mansueto confirmou que Guedes quer que ele seja o secretário-executivo do Conselho Fiscal da República, previsto na proposta de Emenda Constitucional 188/2019. “O ministro diz isso, mas só pretendo ocupar esse cargo se continuar como secretário do Tesouro”, explicou. Ele lembrou que esse conselho ainda terá que ser aprovado pelo Congresso e ser regulamentado por lei complementar, que definirá seu funcionamento.

Mansueto comemora o fato de que o governo vai terminar 2019, na área fiscal, com dados muito melhores do que o esperado no início do ano e juros baixos. “Vender um título do Tesouro, os títulos mais curtos, com juro real por volta de 1% ao ano é um marco.”

Enquanto Mansueto fica, Guedes deve fazer mudança em outro cargo importante na pasta, trazendo o atual secretário-especial adjunto de Fazenda, Esteves Colnago, para compor sua assessoria direta no gabinete ministerial.