Valor Econômico, v. 20, n. 4890, 30/11/2019. Brasil, p. A2

Rendimento e massa salarial aceleram e reforçam quadro melhor para o consumo
Bruno Villas Bôas



Depois de meses em desaceleração, a renda média do brasileiro e a massa de rendimentos voltaram a dar sinais mais positivos nesta reta final de ano, reforçando os cenários dos analistas de que o quarto trimestre reserva um melhor comportamento para o consumo da famílias e para o ritmo da atividade econômica brasileira.

Dados divulgados pelo IBGE na sexta-feira mostram que a chamada massa salarial - a soma dos salários de trabalhadores - cresceu 2,6% nos três meses até outubro em termos reais (descontada a inflação), na comparação ao mesmo período do ano passado, para R$ 212,8 bilhões. O indicador, aderente ao varejo, vinha em desaceleração desde o primeiro trimestre.

Essa melhora da massa refletiu o avanço no número de trabalhadores ocupados (alta de 1,6%) e o aumento da renda dos trabalhadores (0,8%), em relação ao trimestre terminado em outubro de 2018, mas sobretudo a melhor composição do perfil dos empregos gerados no período.

Eduardo Lisboa, economista da LCA Consultores, diz que o trimestre até outubro mostrou aceleração da geração de postos de trabalho formais, como no emprego com carteira assinada (1% sobre o trimestre findo em outubro de 2018), no trabalho por conta própria com CNPJ (8%) e no número de empregadores com CNPJ (1,9%).

Para Thiago Xavier, economista da Tendências Consultoria, o resultado trouxe certo alívio e soma-se a outros fatores que sinalizam para o avanço do consumo nos próximos meses, como o aumento do crédito, os juros mais baixos e a liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) a partir de outubro.

 O economista explica que uma das preocupações nos últimos meses era que a lenta evolução da renda, num ambiente de avanço mais acelerado da tomada de crédito, fizesse crescer o número de famílias inadimplentes. Outro fator de preocupação era a piora da confiança de consumidores, o que poderia limitar o avanço do consumo.

“O rendimento e sinais de que a incertezas estão mais baixas sinalizam que a atividade entra no quarto trimestre com melhora de desempenho. São sinais de que a economia vai ter um quarto trimestre mais forte, o que é consensual entre analistas”, diz ele, que prevê avanço de 0,6% do PIB no quarto trimestre em relação ao terceiro.

A pesquisadora Laísa Rachter, do Instituto Brasileiro de Economia Aplicada da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), concorda que o resultado foi um “bom sinal” para o fim de ano, interrompendo o processo de desaceleração visto nos meses anteriores. Para ela, porém, será preciso aguardar os próximos meses para identificar a tendência.

“A desaceleração da massa de rendimentos era algo que via como bastante ruim. Como agora vemos uma recuperação, é algo positivo no sentido de trabalhadores sendo alocados em bons postos de trabalho. Não é certo que é um movimento que se sustente nos próximos meses. Precisamos acompanhar a evolução”, afirma ela.

O aumento do número de trabalhadores ocupados em postos formais também provocou uma redução da taxa de informalidade da economia, calculada pelo IBGE. O indicador foi de 41,2% no trimestre móvel até outubro, um pouco mais baixo que os 41,4% do terceiro trimestre deste ano. No mesmo período de 2018, estava em 41,1%.

Apesar dos sinais positivos, analistas são unânimes na avaliação de que o mercado de trabalho ainda se recupera mais lentamente do que o desejado. Pela série livre de efeitos sazonais, a taxa de desemprego nacional cresceu para 12% no trimestre móvel até outubro, de 11,9% do terceiro trimestre do ano, segundo a MCM Consultores. “Esperamos que o mercado de trabalho evolua favoravelmente, de maneira gradual, ao longo dos próximos meses”, avaliou a MCM.