O Globo, n. 32699, 15/02/2023. Política, p. 8

Flávio acena com candidatura a prefeito do Rio

Bernardo Mello
Jan Niklas


Em meio a uma queda de braço pelo comando estadual do PL, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) tem se apresentado a interlocutores na classe política como candidato à Prefeitura do Rio em 2024. O objetivo, segundo aliados de Flávio, é marcar posição na capital fluminense de olho em um embate com o prefeito Eduardo Paes (PSD), que costurou aliança com o presidente Lula (PT) e busca ainda o apoio do governador Cláudio Castro (PL) — que, por sua vez, articula a candidatura de um aliado.

A movimentação de Flávio se acentuou em meio ao racha no PL na eleição à presidência da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), que opôs o candidato apoiado por Castro, Rodrigo Bacellar, ao grupo liderado pelo presidente estadual do partido, deputado federal Altineu Côrtes. O embate levou Castro a exigir o comando do PL no Rio, mas o pleito não foi atendido pelo chefe nacional da sigla, Valdemar Costa Neto, de quem Altineu é aliado de longa data. Diante da queda de braço, Flávio deu um passo à frente e passou a articular também por maior influência nos rumos do partido, que deverá ter acesso à maior fatia do fundo eleitoral nas eleições municipais.

— A candidatura (de Flávio) seguramente terá o apoio da bancada do PL. É o nome que representa a base bolsonarista —disse o deputado estadual Filippe Poubel (PL).

O avanço bolsonarista no Rio pode travar a costura de Castro, que tem se aproximado de Lula e, em paralelo, planeja lançar seu atual secretário de Saúde, Doutor Luizinho (PP), como candidato à prefeitura com apoio do PL na chapa. A aliança com o bolsonarismo é considerada necessária para viabilizar a candidatura de Luizinho contra Paes, que tenta assegurar para sua reeleição os apoios do PT e de partidos da base de Lula, como PSB, PDT e União Brasil. Paes fez uma reforma no secretariado no início do ano para acomodar essas siglas.

Após o embate na Alerj, Castro ameaçou deixar o PL, mas recuou na última sexta-feira em conversa por telefone com Valdemar, conforme antecipou a colunista do GLOBO Bela Megale. Segundo aliados do governador, um dos fatores levados em consideração para a decisão de permanecer no PL por ora foi a perspectiva de assumir as rédeas do partido no estado, em meio às pressões do próprio Castro e de Flávio sobre Altineu.

A interlocutores, o deputado tem buscado diminuir a fervura e defendido que a união com o governador e o senador é o melhor para o PL, mas não sinaliza intenção de abrir mão do comando do partido no estado. Na bancada do PL fluminense, parlamentares bolsonaristas têm manifestado apoio à continuidade de Altineu como líder do partido na Câmara, com a ressalva de que é uma tarefa “complexa” e que consome grande quantidade de tempo para atender os 99 deputados da sigla.

Efeitos colaterais

A possível candidatura de Flávio também interdita, por ora, debates internos do PL com outros nomes para chapas à prefeitura do Rio. Dois generais da reserva e exministros de Bolsonaro, Walter Braga Netto e Eduardo Pazuello, foram cotados pelo partido para compor candidaturas alinhadas ao bolsonarismo, assim como o senador Carlos Portinho (PL-RJ).

Caso deixe o Senado, a vaga de Flávio ficará com o suplente, o empresário Paulo Marinho, que tornou-se desafeto de seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Outro desdobramento numa eleição à prefeitura seria a mudança de seu foro, atualmente no Supremo Tribunal Federal (STF), para o Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ), que já analisa o caso das rachadinhas. Procurado, Flávio não se manifestou.