O Globo, n. 32698, 14/02/2023. Política, p. 4

'Moro pode sair se ficar incomodado'

Entrevista: Luciano Bivar


O senador Sergio Moro, do seu partido, disse ser oposição ao governo Lula. O que o União Brasil vai fazer caso ele se negue a seguir os posicionamentos da legenda?

Precisamos debater o papel de pessoas eleitas para cargos majoritários, mas que precisam ter um mínimo de fidelidade partidária. Precisamos rever a legislação junto ao TSE e fazer com que exista um vínculo entre o partido e o político. Afinal, a legenda investiu nele dinheiro e tempo de televisão. Moro vai votar como quiser, não será coagido por ninguém, mesmo porque não tem cargos no governo. Mas ele e os demais saberão qual é a posição oficial do partido, e quem se sentir incomodado poderá sair sem qualquer prejuízo. Como tapar o sol com a peneira?

O que acha de o ex-presidente Jair Bolsonaro, que já foi seu aliado, não ter voltado até hoje dos Estados Unidos, mesmo após os atentados de 8 de janeiro?

Eu não posso avaliar a cabeça do ex-presidente, ela é muito difícil de entender. Ele diz uma coisa pela manhã, diz outra à tarde e uma terceira quando anoitece. A vida dele é de muitas incoerências. Eu não consigo avaliar, por exemplo, se a relação do Bolsonaro com o PL será duradoura. Fica difícil para uma legenda manter alguém que é impossível ter certeza para onde vai.

O senhor acha que os ataques contra as urnas eletrônicas, feitos por Bolsonaro e uma parcela de apoiadores, incentivaram os atos extremistas de 8 de janeiro?

Claro. As pessoas se guiam por narrativas, e quem tem a caneta de presidente tem o domínio delas.

Em algum momento, durante reuniões com Bolsonaro ou com pessoas ligadas, o senhor já tinha ouvido falar sobre algum plano golpista? Alguém já havia falado com o senhor sobre iniciativas para interferir nas eleições ou sobre a minuta golpista, encontrada na casa do ex-ministro Anderson Torres?

Sobre esta minuta, nunca ouvi falar. Não tenho bola de cristal, mas as coisas eram tendenciosas para que houvesse uma tentativa de invasão às instituições do nosso país.