Valor econômico, v. 20, n. 4890, 29/11/2019. Política, p. A10
Centrão e oposição fecham acordo para derrotar
Moro
Raphael Di Cunto
Isadora Peron
Líderes dos partidos do Centrão e
da oposição acertaram a estratégia para derrotar o ministro da Justiça e
Segurança Pública, Sergio Moro, na votação do projeto anticrime proposto por
ele e evitar a pressão popular para acatar pontos defendidos pelo ex-juiz da
operação Lava-Jato. O texto deve ser votado na quarta-feira no plenário da
Câmara.
Esses deputados defendem aprovar integralmente, sem nenhuma
emenda, o relatório feito pelo grupo de trabalho (GT) da Câmara que discutiu o
projeto junto com a proposta do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Alexandre de Moraes para combate ao crime organizado. O GT foi criado para
unificar os dois textos e rejeitou vários dispositivos defendidos por Moro.
Entre os artigos que o ex-juiz da Lava-Jato tenta aprovar estão a
ampliação do excludente de ilicitude para policiais e a isenção de punição se
matarem em serviço movidos por “violenta emoção ou escusável medo” e o “plea bargain” - um acordo
entre acusação e defesa para encerrar o processo em troca de redução de pena.
O relatório final também excluiu o artigo que previa a prisão
imediata após condenação pelo Tribunal do Júri, o uso de videoconferências como
regra para a tomada de depoimentos, a autorização para atuação do agente
policial disfarçado e a proibição de concessão de benefícios ao condenado que
mantém vínculo com o crime organizado.
Moro ainda quer retirar do projeto a criação do “juiz de
garantias”, responsável pelo controle da legalidade da investigação criminal e
que atuaria na fase inicial do processo. Outro juiz assumiria após a aceitação
da denúncia e faria o julgamento.
O discurso de líderes do Centrão e
da oposição, contudo, é de que o grupo discutiu o assunto por 200 dias e fez um
trabalho “irretocável”, excluindo pontos que contrariavam a Constituição e
aperfeiçoando os projetos. Por isso, partidos como DEM, PP, MDB, PL, PT e PDT
acertaram que trabalharão contra mudanças no parecer. “Foram excluídos pontos
inconstitucionais e aprimorado muito o texto. Vamos votar o relatório sem
emendas”, disse o líder do PDT na Câmara, André Figueiredo (CE).
A ideia desses líderes é evitar o que ocorreu com outra proposta
que era encampada por Moro, as “10 Medidas Contra a Corrupção”, elaborada por
aliados dele no Ministério Público. O texto foi votado em meio a um clima de
acirramento e acabou com vários itens excluídos. No lugar, foram aprovadas
medidas para punir juízes e promotores por “abuso de autoridade”. A votação
repercutiu muito mal na sociedade.
Outros partidos, contudo, pretendem se insurgir contra essa estratégia
e aprovar requerimento para votar o projeto de Moro no lugar do texto do GT.
Estão nessa articulação o Novo, Podemos, Pros,
Cidadania e parte do PSDB, além do relator do projeto, deputado capitão Augusto
Rosa (PL-SP), que acabou derrotado. “Há uma tendência majoritária na bancada
para votar a favor das ponderações do ministro”, disse o líder do PSDB na
Câmara, Carlos Sampaio (SP).