Valor econômico, v. 20, n. 4890, 29/11/2019. Brasil, p. A2

Expectativa de vida do brasileiro tem aumento de 3,1 anos em uma década

Bruno Villas Bôas


A expectativa de vida ao nascer dos brasileiros cresceu em 3,1 anos na última década, passando de 73,2 anos em 2009 para 76,3 anos em 2018. Em 2017, a esperança de vida era de 76 anos. As informações são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou ontem a Tábua de Mortalidade de 2018, que traz projeções de incidência de mortalidade no país.

O documento apresenta as estimativas para cada faixa etária da população. Um homem de 50 anos tinha uma esperança de sobrevida de 36,8 anos em 2018, por exemplo. Dez anos antes, essa expectativa era de 34 anos. Uma mulher de 80 anos tinha uma expectativa de sobrevida de mais 10,4 anos, de acordo com a nova tábua de mortalidade.

Segundo o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, os indicadores de longevidade mostram, combinados com dados de fecundidade, que o país segue em sua marcha de envelhecimento. Nos cálculos dele, o Brasil vai virar um país idoso em 2029, quando a proporção de pessoas com 60 anos ou mais de idade vai superar o número de pessoas menores de 15 anos de idade.

“Durante mais de 500 anos, o Brasil teve uma estrutura etária jovem. Mas isto vai mudar no decorrer do século XXI. Vai ser o primeiro século de população envelhecida”, disse o demógrafo.

Essa maior longevidade média tem efeitos de curto prazo. A aumento da expectativa de vida de 2017 para 2018 traz repercussões nos cálculos das aposentadorias de brasileiros, via o fator previdenciário, mecanismo utilizado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) na tentativa de adiar a aposentadorias de trabalhadores, penalizando quem se aposenta mais cedo.

Segundo cálculos da Conde Consultoria Atuarial, o trabalhador que se aposentar pelo INSS a partir de domingo precisará trabalhar cerca de dois meses a mais, em média, para receber o mesmo valor de benefício que teria direito na vigência da tabela antiga. Sem esse período a mais de contribuição, o trabalhador se aposentaria com um benefício 0,64% menor.

Após a reforma da Previdência, o fator previdenciário se aplica agora a trabalhadores que, em 12 de novembro, véspera da vigência da reforma, tinham preenchido requisitos para se aposentar por tempo de contribuição. E, também, para trabalhadores que vão se aposentar por tempo de contribuição a serem concedidas pela regra de transição com pedágio de 50%.

O envelhecimento dos brasileiros reflete melhorias nas condições de vida. A mortalidade infantil, por exemplo, caiu significativamente nas últimas décadas com avanços no acesso a vacinas, atendimentos de saúde e saneamento básico. O índice de mortalidade infantil - probabilidade de morte antes de completar um ano - foi de 12,4 por mil em 2018, abaixo dos 12,9 por mil do ano anterior. Essa razão de óbitos era de 69,1 em 1980.

Apesar dos avanços, o Brasil segue bastante distante dos indicadores exibidos pelos países mais desenvolvidos do mundo, como Japão e Finlândia, ambos com taxas de mortalidade infantil inferior de 2 por mil nascidos vivos. Dentre os países em desenvolvimento que compõem o Brics (acrônimo para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), o Brasil está mais próximo da China, que tem mortalidade infantil de 9,9 por mil nascidos.

Para chegar aos números de mortalidade infantil do ano passado, o IBGE não utiliza registros de óbito e dados do Ministério da Saúde referentes a 2018, mas sim projeções baseadas nas tendências populacionais, de fecundidade e de mortalidade. Por essas projeções, a mortalidade infantil deverá continua caindo nos próximos anos e entrar na casa de um dígito em 2025.

A pesquisa do IBGE voltou a mostrar também as desigualdades regionais. Quem nasce em Santa Catarina tem uma esperança de vida de 79,7 anos, a maior do país, seguido por Espírito Santo (78,8) e São Paulo (78,6). No Maranhão, um recém-nascido tem esperança de vida de 71,1 anos - o pior indicador do país, 8,6 anos a menos do que em Santa Catarina. Na média do Nordeste, a esperança é de 73,6 anos.

Mulheres também seguem mais longevas do que homem, embora essa diferença tenha se estreitado um pouco na passagem de 2017 para 2018. Para a população masculina, a expectativa cresceu de 72,5 anos para 72,8 anos (diferença de 3 meses e 7 dias). Para as mulheres, o aumento foi um pouco menor, de 79,6 anos para 79,9 anos em 2018 (3 meses maior).

Marcio Minamiguchi, pesquisador do IBGE, afirma que essa diferença de esperança de vida entre homens e mulheres é chamada de “sobremortalidade masculina”. A disparidade é mais acentuada conforme a faixa etária. Em 2018, um homem de 20 a 24 anos tinha, por exemplo, 4,5 vezes mais chance de não chegar aos 25 anos do que uma mulher da mesma faixa etária.

“O fenômeno é provocado por causas externas, que passaram a desempenhar um papel de destaque a partir dos anos 80. É um fenômeno proveniente da urbanização e inclui homicídios, acidentes de trânsito e quedas acidentais”, disse o pesquisador do IBGE, ressaltando que, em 1940, não havia essa discrepância evidente.