O Globo, n. 32695, 11/02/2023. Política, p. 9

Futuro de Dilma tem alto salário e gestão bilionária

Jan Niklas


Com um orçamento bilionário para gerir, caso seja confirmada sua indicação para o comando do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), a ex-presidente Dilma Rousseff deve receber um salário de pelo menos R$ 290 mil por mês. A instituição financeira é conhecida como o Banco do Brics (África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia) e, atualmente, tem uma carteira que soma US$ 32,8 bilhões financiados em 96 projetos pelo mundo.

De acordo com o colunista Lauro Jardim, do GLOBO, o Brasil já teve o aval dos demais países para a nomeação, também já acertada com o atual presidente da instituição, Marcos Troyjo. Segundo o último balanço anual divulgado pelo NBD, o total pago em salários e benefícios aos seis postos de chefia do banco —formados pela presidência e cinco vice-presidências — é de US$ 4 milhões por ano. O relatório contábil não discrimina o valor pago a cada um e informa somente o gasto global. Em um cenário hipotético, em que o valor fosse dividido igualmente entre os seis cargos, cada um receberia US$ 55,5 mil por mês — quantia equivalente a R$ 290 mil mensais. O GLOBO questionou o banco sobre o valor exato, mas não obteve resposta. Dilma deverá ser a primeira mulher brasileira a dirigir um banco multilateral. A meta do NBD, segundo relatório divulgado pelo banco, é investir, além dos valores aplicados nos 96 projetos, mais cerca de US$ 30 bilhões até 2026. O Brasil já recebeu, pelo menos, US$ 5 bilhões desde a sua fundação.

O NBD é um dos oito grandes bancos de desenvolvimento mundiais, ao lado de instituições como Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Europeu de Investimento, Banco Africano de Desenvolvimento, Banco Asiático de Desenvolvimento e Banco Mundial.

Países emergentes

À frente do NBD, Dilma terá como missão mobilizar recursos para projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável nos Brics e em outras economias emergentes e países em desenvolvimento. A China é o país que lidera o ranking de investimentos da instituição financeira, com mais de US$ 8 bilhões.

De acordo com um interlocutor de Dilma, sua indicação para presidir o banco seria também uma forma de reaproximar o Brasil da China. A ex-presidente mantém boas relações com o presidente chinês, Xi Jinping, que já estava no poder durante o mandato de Dilma no Palácio do Planalto. O foco do NBD é o financiamento de projetos que incluem energia limpa e eficiência energética, infraestrutura de transportes, saneamento básico, proteção ambiental, infraestrutura social e digital. Tanto empresas privadas quanto órgãos públicos podem ter empréstimos aprovados pelo Banco dos Brics. Entre alguns dos grandes projetos aprovados pelo  NBD no ano passado estão a construção de uma linha de metrô na Índia e uma ponte rodoviária na China. No Brasil, foram aprovados em 2022 ações como um empréstimo para a prefeitura de Aracaju investir US$ 105 milhões em obras de saneamento básico, drenagem, pavimentação e recuperação de vias.

O NBD também aprovou um investimento de US$ 300 milhões para a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) executar obras. Outro projeto destinado ao Brasil, que somou um valor de US$ 100,15 milhões, teve como destino a Companhia Energética de Brasília (CEB). A empresa investiu em lâmpadas de LED na iluminação pública da capital federal e vai construir uma usina solar fotovoltaica.

Novos membros

O Novo Banco de Desenvolvimento foi criado em 2014 e tem como sócios principais seus países fundadores: África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia. Porém, a instituição financeira só passou a operar em 2016. Combinados, os países sócios-fundadores somam 26% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e concentram 42% da população. Recentemente, a instituição, que fica sediada em Xangai, na China, admitiu como novos membros Bangladesh, Egito, Emirados Árabes Unidos e Uruguai. Segundo o jornal Valor Econômico, o NBD é o banco multilateral em que o Brasil tem a maior quantidade de ações (20%). No BID, por exemplo, sua fatia é de 11,35%, e no Banco Mundial chega a 2,21%. Dono de um quinto da participação no banco, o país é sócio paritário ao lado de algumas das maiores economias mundiais como China e Índia. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem tratado com o atual presidente do NBD, Marcos Troyjo, sobre a substituição. Lula buscava um cargo para Dilma fora do país, mas que não a colocasse como funcionária do governo no exterior.