O Globo, n. 32695, 11/02/2023. Política, p. 6

Falhas nos atos e perda da Abin esvaziam GSI

Alice Cravo


Chefe do Comando Militar do Planalto, o general Gustavo Henrique Dutra de Menezes afirmou ao Ministério Público Militar (MPM) que o sistema de proteção aos prédios públicos montado para o dia 8 de janeiro, data da invasão às sedes dos Três Poderes, foi traçado com base em uma análise em que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) apontava um cenário de “normalidade”. A informação aumenta apressão sobre o ministro responsável pelo GSI, o general da reserva Gonçalves Dias, conhecido como G Dias, tratado como personagem de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nesta semana, o Palácio do Planalto já havia decidido retirar da alçada do generala Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que será transferida para a Casa Civil, comandada por Rui Costa. Menezes alegou em depoimento que, em função das informações prestadas pelo GSI, não houve reforço de contingente preventivo para evitar os ataques de extremistas. As informações constam num ofício que ele enviou no dia 23 de janeiro com respostas feitas pelo MPM, que abriu diferentes procedimentos para investigara atuação dos militares no dia 8 de janeiro. O general afirmou que, naquele dia, o Comando Militar do Planalto enviou por conta própria 130 militares para permanecer de prontidão no Planalto.

O GSI, no entanto, pediu um aumento de efetivo apenas quando os invasores passaram a adotar “comportamento hostil nas proximidades da Esplanada dos Ministérios”. Menezes pontua no ofício que a segurança do Planalto é feita pelo Exército e agentes do GSI, a quem cabe organizar as ações diariamente. A participação de outras forças militares ocorre conforme planejamento e requisições do GSI, argumentou o oficial. Desgastado pelas supostas falhas no esquema de segurança, o general deve deixar o Comando do Planalto em breve. Integrantes do governo consideram que ele pode ter sido leniente com a permanência do acampamento montado por bolsonaristas em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, de onde partiu uma parcela expressiva de invasores. Procurado, o GSI informou que os documentos referentes ao esquema de segurança do dia 8 foram encaminhados à Comissão Mista de Controle da Atividade de Inteligência do Congresso, responsável por fiscalizar as atividade de Inteligência do país. O GLOBO teve acesso a esse documento. Ele contém um alerta emitido pela Abin, subordinada ao GSI, a diversos órgãos do governo dois dias antes dos atos. Nesse comunicado, a Abin expõe o risco de investidas violentas na Esplanada no Congresso.

Ministério esvaziado

A tese apresentada por Menezes, que compromete o GSI, reforça o isolamento do ministro Gonçalves Dias, que viu seu poder ser esvaziado com a perda da Abin —antes disso, a segurança do presidente e de seus familiares, antes exclusiva do GSI, passou a ser compartilhada com uma estrutura ligada diretamente ao gabinete presidencial. Desde os atos golpistas, assim como outros militares, o ministro do GSI passou a ser visto com desconfiança no Planalto. A avaliação interna é de que a proporção dos estragos na sede da Presidência deixa evidente a falha do órgão chefiado por G Dias. O descontentamento foi exposto publicamente pelo próprio Lula.

— Nós temos inteligência do GSI, da Abin, do Exército, da Marinha, da Aeronáutica. A verdade é que nenhuma dessas inteligências serviu para avisar ao presidente da República que poderia ter acontecido isso (invasão ao Planalto) —queixou-se o petista em entrevista à GloboNews, no mês passado.