O Estado de São Paulo, n. 46766, 01/11/2021. Política p.A8

 

Jornalistas são agrdidos por seguranças em passeio e Bolsonaro por Roma

 

Jornalistas brasileiros que acompanhavam o presidente Jair Bolsonaro em Roma, onde ele participou da Cúpula de Líderes do G-20, relataram ontem agressões por parte da equipe de segurança do chefe do Executivo. As hostilidades aconteceram, conforme os relatos, antes e durante uma caminhada improvisada de Bolsonaro com apoiadores que se reuniram frente à embaixada do Brasil.

No local, o presidente acenou, da sacada, para os simpatizantes que carregavam cartazes de apoio ao governo. Depois, desceu para falar com o grupo. Durante a espera pelo presidente, uma jornalista da Folha de S. Paulo foi empurrada por seguranças e uma produtora da Globonews foi hostilizada pelos manifestantes.

Ao indicar que faria uma caminhada pelo bairro, Bolsonaro foi seguido por equipes de reportagem. Neste momento, jornalistas passaram a ser empurrados pelos seguranças e houve agressões. Um profissional da TV Globo disse ter recebido um soco no estômago. Os veículos que presenciaram o momento foram impedidos de gravar. O celular de um jornalista do Uol foi jogado na via. Repórteres do jornal O Globo e da BBC Brasil relataram agressões verbais.

De acordo com o Uol, nenhum dos policiais disse se fazia parte da embaixada brasileira ou italiana ou se era de empresa privada. Segundo relatos de presentes, havia tanto italianos quanto brasileiros no grupo responsável pela proteção do presidente. Com a confusão, a caminhada durou pouco menos de dez minutos e Bolsonaro voltou à embaixada. Os jornalistas estavam com credenciais e identificações no momento das agressões.

 

REPERCUSSÃO. Em nota, a TV Globo condenou a agressão” e cobrou “apuração completa de responsabilidades”. A Folha de S.paulo e o Uol também repudiaram o episódio. “Mais um inaceitável ataque da Presidência à imprensa profissional”, registrou o jornal.

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) divulgou comunicado no qual “repudia com indignação as agressões”. “A violência é consequência da postura do próprio presidente, que estimula a intolerância diante da atividade jornalística. É inadmissível que o presidente e seus agentes de segurança se voltem contra o trabalho dos jornalistas.” A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) afirmou que, “ao não condenar atos violentos de seus seguranças e apoiadores, o presidente incentiva mais ataques do gênero, em uma escalada perigosa e que pode se revelar fatal”. O Palácio do Planalto não se manifestou.

 

AGENDA. Bolsonaro cumpriu ontem na Itália uma agenda “à margem” da cúpula do G20, segundo informou o Planalto no Twitter. O presidente não participou do passeio de autoridades – que incluiu uma visita à Fontana de Trevi – e se reuniu com o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Crítico de medidas recomendadas pela OMS para conter a pandemia de covid19, Bolsonaro divulgou nas redes sociais um vídeo da reunião. No Twitter, Ghebreyesus afirmou que foi discutido o potencial do Brasil para a produção local de vacinas.

Em seu primeiro compromisso do dia, Bolsonaro concedeu entrevista a uma TV italiana, na qual criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse que o petista foi financiado pelo “narcotráfico da Venezuela”. Afirmou, ainda, que a Amazônia “não pega fogo”. GINA MARQUES, ESPECIAL PARA O ESTADÃO, E MARLLA SABINO. COLABOROU LEANDRO TAVARES