O Globo, n. 32689, 05/02/2023. Política, p. 7

Influência de Janja vai de Itaipu ao carnaval

Jeniffer Gularte


Com uma sala no terceiro andar do Palácio do Planalto, a poucos passos do gabinete presidencial, a socióloga Rosângela Silva, a Janja, tem reivindicado papel de destaque em discussões do dia a dia do governo. A influência da primeira-dama vai da gestão de Itaipu, estatal do setor elétrico, ao direcionamento de políticas sociais, como o Bolsa Família, até a palavra final sobre a campanha publicitária no carnaval. Para ajudar nesses despachos, ela conta com o assessoramento de duas amigas de longa data lotadas no gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O desejo de Janja de assumir papel de protagonismo era ensaiado desde a transição e começou a tomar forma logo no primeiro mês de governo. No caso da publicidade oficial do carnaval, por exemplo, a ordem é que as peças, em fase de produção, passem pelo aval dela antes de serem divulgadas. Na prática, a primeira-dama avocou para si uma função que seria da Secretaria de Comunicação Social, chefiada pelo ministro Paulo Pimenta. Na visão de integrantes da pasta, porém, o entendimento é que submeter o conteúdo a Janja seria o equivalente a ter a aprovação de Lula.

Janja também indicou a intenção de influenciar na gestão de Itaipu, empresa na qual trabalhou por 15 anos. Na terça-feira passada, ela se reuniu no Planalto com o deputado federal Enio Verri (PT-PR), futuro presidente da estatal. Na conversa, discutiu a composição das cinco diretorias e falou da sua atuação na área ambiental e nas comunidades indígenas. Verri afirmou ao GLOBO que procurou a socióloga para buscar informações e entender o papel de inclusão social da companhia.

Antecessoras na função

Janja não é a primeira mulher de um presidente a assumir funções no governo. A diferença para as antecessoras, porém, é a atuação em áreas diversas do governo. Ruth Cardoso, por exemplo, era responsável pelo programa Comunidade Solidária, projeto que reuniu inciativas em áreas sociais. Marcela Temer, por sua vez, foi embaixadora do Criança Feliz, voltado aos cuidados da infância. Já Michelle Bolsonaro comandou o Pátria Voluntária, que tinha por objetivo promover políticas públicas para a população vulnerável.

Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, em novembro, Janja afirmou que seu objetivo era dar um novo sentido ao papel de primeira-dama, termo, aliás, que ela refuta. Uma vez no governo, tem dado expediente diário no Palácio do Planalto e, em alguns casos, aproveitado o entra e sai de ministros do gabinete presidencial para abordá-los e discutir ações de governo. Um dos episódios envolveu Wellington Dias (Desenvolvimento Social), responsável por tirar do papel a nova versão do Bolsa Família, que deve ser relançado até março.

Logo nos primeiros dias de janeiro, antes de Dias entrar em uma agenda com Lula, Janja o parou na antessala do gabinete presidencial e fez um apelo para que o programa tivesse um olhar emergencial para mulheres e crianças em situação de rua. Também sugeriu que indígenas e quilombolas passassem na frente da fila de beneficiários. Integrantes do ministério afirmam que os pedidos vão na linha do que já estava previsto.

Em outro caso, foi Janja quem recebeu a ministra Margareth Menezes (Cultura) no Palácio do Planalto para tratar da recuperação do patrimônio destruído na invasão golpista de 8 de janeiro. Na conversa, acertou diretamente com a ministra que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) seria o responsável por produzir um relatório de bens destruídos.

Para ajudar no trabalho no Planalto, Janja escolheu duas amigas, atualmente lotadas no gabinete pessoal de Lula. Neudicleia Oliveira, do Movimento dos Atingidos por Barragens, conheceu Janja em 2018 na vigília feita enquanto o presidente estava preso em Curitiba. Cristina Charão também é amiga de Janja e cuida da assessoria de imprensa.