O Globo, n. 32687, 03/02/2023. Política, p. 10

Lula recua e admite ser candidato à reeleição

Karolini Bandeira


Um mês após assumir a Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem existir a possibilidade de concorrer à reeleição em 2026, a depender da situação do país e de sua saúde. Na campanha eleitoral do ano passado, o petista afirmou mais de uma vez que não tentaria outro mandato se derrotasse o projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro.

Em entrevista à Rede TV!, o presidente disse considerar a hipótese de disputar a reeleição dependendo de sua condição de saúde e do cenário político.

— Se chegar no momento, estiver uma situação delicada e eu estiver com saúde, eu posso (concorrer) — afirmou Lula, que ainda brincou: —Mas com saúde perfeita, energia de 40 e tesão de 30.

Mudança

A declaração do presidente contraria o que o então candidato do PT ao Palácio do Planalto pregou ao longo da campanha eleitoral do ano passado.

“Eu, se eleito, serei um presidente de um mandato só”, escreveu Lula em uma rede social em 25 de outubro do ano passado.

Essa não tinha sido a primeira vez que o então candidato falava sobre a intenção de governar por apenas mais um mandato. Um mês antes, durante ato em que recebeu o apoio de tucanos históricos, ele já havia anunciado que não disputaria um novo mandato presidencial em 2026 caso fosse eleito para comandar o país por uma terceira vez.

—Todo mundo sabe que não é possível um cidadão com 81 anos querer a reeleição. Todo mundo sabe. A natureza é implacável — disse Lula na ocasião.

Ontem, na entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, o petista elencou possíveis nomes de seu campo político para as próximas eleições presidenciais:

—Temos o Rui Costa (ministro da Casa Civil, do PT), nós temos o Wellington (Dias, ministro do Desenvolvimento Social, do PT), nós temos o Camilo (Santana, ministro da Educação, do PT), nós temos Flávio Dino (ministro da Justiça, do PSB), nós temos o Renanzinho (Renan Filho, ministro dos Transportes, do MDB).

No mês passado, Rui Costa já havia afirmado considerar a a possibilidade de Lula tentar a reeleição.

— Vocês estão partindo de um fato consumado de que o Lula não irá disputar a eleição (...). Eu não parto desse fato consumado —afirmou o ministro, um dos mais fiéis aliados do presidente, em entrevista ao Roda Viva.

Em seguida, ao ser cobrado sobre a promessa de Lula de não voltar a concorrer a um mandato, Costa reafirmou a possibilidade de o petista não deixar o poder em 2026:

— Lula falou de coração considerando a sua trajetória e a volta dele pra consolidar a democracia. Mas, se tudo der certo, faremos um governo exitoso. E se Lula continuar com energia e o tesão de 20 anos, quem sabe ele faça um novo mandato.

Embora não tenha sido citado por Lula ontem, o nome considerado natural no PT para a sucessão é o de Fernando Haddad, que disputou a eleição presidencial de 2018 pelo partido, quando Lula estava preso. Haddad foi escalado para um posto de destaque no governo, o Ministério da Fazenda, que funcionará com o um testo para sua pretensão eleitoral.

O vice-presidente Geraldo Alckmin, também cotado, foi outro que ficou de fora da lista de Lula. A escalação do ex-tucano para coordenar a equipe de transição do governo provocou incômodo no PT, que teme justamente a projeção de Alckmin.

Concorrência

O mesmo ocorreu em relação à ex-senadora Simone Tebet (MDB-MS), que queria assumir o Ministério do Desenvolvimento Social , responsável pelo Bolsa Família. Por pressão do PT, Tebet acabou nomeada para o Ministério do Planejamento. O Ministério do Desenvolvimento Social, de forte apelo eleitoral, foi ocupado pelo senador eleito Wellington Dias (PT-PI). Tebet disputou a eleição presidencial do ano passado e terminou em terceiro lugar. Seu apoio a Lula no segundo turno foi considerado fundamental para a vitória do petista.