O Globo, n. 32686, 02/02/2023. Política, p. 7

Discurso Pacificador

Lucas Altino
Luã Marinatto
Dimitrius Dantas


Reeleitos para as presidências da Câmara e do Senado, respectivamente, tanto Arthur Lira (PL-AL) quanto Rodrigo Pacheco (PSDMG) fizeram uma defesa veemente da democracia em seus discursos da vitória e pregaram a necessidade de pacificar o país, mas sem deixar de punir os envolvidos nos atos golpistas do dia 8 de janeiro. Eles também prometeram trabalhar para manter a independência entre os Poderes.

Lira pontuou que “é hora de desinflamar o Brasil” e de “distensionar as relações”. Assim como Pacheco, o deputado — reeleito com o apoio tanto de bolsonaristas quanto de petistas —recriminou as cenas de barbárie protagonizadas por apoiadores do expresidente em Brasília:

— Mais um vez eu digo o que nós pregamos durante esta campanha, e eu aqui reafirmo: é hora de desinflamar o Brasil. Distensionar as relações. E os Poderes da República, pilares da nossa democracia, devem dar o exemplo.

O presidente da Câmara ainda reforçou que a “baderna de alguns” não irá abalar a democracia brasileira, e dirigiu um recado aos radicais.

— Neste Brasil, não há mais espaço para aqueles que atentam contra os Poderes. Esta Casa não defenderá ou referendará nenhum ato, discurso ou manifestação que atente contra a democracia. Para aqueles que depredaram, vandalizaram e envergonharam o povo brasileiro haverá, sim, o rigor da lei —disse Lira.

No primeiro pronunciamento após o triunfo sobre o bolsonarista Rogério Marinho (PL-RN), Pacheco defendeu que “a polarização tóxica precisa ser erradicada”. O presidente reeleito do Senado frisou, no entanto, que “pacificação não significa se calar diante de atos golpistas”.

— Pacificação é buscar cooperação. Pacificação é lutar pela verdade. Pacificação é abandonar o discurso de nós contra eles e entender que o Brasil é imenso e diverso, mas é um só. O Brasil é um só —disse Pacheco, que direcionou um recado mais claro aos bolsonarismo, mesmo sem citar o expresidente Jair Bolsonaro:

— Os brasileiros precisam voltar a divergir civilizadamente, precisam reconhecer com absoluta sobriedade quando derrotados e precisam respeitar a autoridade das instituições públicas. Só há ordem se assim o fizerem. Só há patriotismo, se assim o fizerem. Só há humanidade, se assim o fizerem.

O presidente do Senado também foi enfático ao dizer que a democracia “está de pé pelo trabalho de quem se dispõe ao diálogo e não ao confronto”.

— O recado que o Senado Federal dá ao Brasil agora é que manteremos a defesa intransigente da democracia —afirmou.

Independência

Pacheco garantiu que defenderá “a independência do Senado Federal e do Congresso Nacional de modo firme e perseverante” e que honrará “o compromisso de garantir as prerrogativas das senadoras e dos senadores, legítimos representantes eleitos de seus estados”.

— O senador que sofrer algum tipo de perseguição, revanchismo ou retaliação merecerá pronta resistência, seja contra quem for. As prerrogativas e imunidades serão sempre defendidas pela Presidência, porque é uma obrigação do presidente —defendeu Pacheco.

Lira foi ainda mais enfático neste tema, prometendo ser “uma voz firme a favor das prerrogativas e liberdade de expressão de cada parlamentar”.

— Os Poderes da República, pilares da nossa democracia, devem dar o exemplo. É hora de ver cada um no seu quadrado constitucional. O Legislativo é o poder moderador da República e assim continuará sendo. Não dá mais para que as decisões tomadas nesta Casa sejam constantemente judicializadas —cobrou o presidente da Câmara.

Apesar de criticar aos golpistas dos atos do dia 8 de janeiro, Lira fez questão de elogiar as Forças Armadas. Segundo ele, o comando do Exército mostrou que obedece e respeita a escolha das urnas, “seja qual for a linha política”.

— Aqui quero fazer um reconhecimento às Forças Armadas e o seu respeito à Constituição. No que pese possíveis omissões no 8 de janeiro, que estão sendo apuradas, o conjunto das Forças Armadas reconhece a obediência ao poder civil escolhido democraticamente nas eleições livres —declarou.