O Estado de São Paulo, n. 46761, 27/10/2021. Economia p.B1

 

Inflação recorde reforça Selic mais alta

 

Política monetária A hora do Copom

DANIELA AMORIM, CÍCERO COTRIM e LUCIANA XAVIER

Prévia do IPCA de outubro chega a 1,2%, pior resultado para o mês desde 1995, e faz mercado aumentar para até 2 pontos projeção de reajuste da taxa básica de juros

 

Prévia da inflação oficial no mês, o IPCA-15 bateu em 1,2% em outubro – o pior resultado para o mês desde 1995 – e aumentou a pressão sobre o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que anuncia hoje a nova taxa básica de juros. A variação recorde dos preços levou o mercado a revisar novamente suas projeções, e as apostas agora são de aumento de até 2 pontos porcentuais para a Selic – que está em 6,25% ao ano.

Além da alta da inflação – que em 12 meses, considerando o IPCA-15, já está em 10,34%, muito acima do teto da meta definida para o ano (5,25%) –, as estimativas de bancos e consultorias também levam em conta o receio de uma piora das contas públicas. Isso seria resultado da tentativa do próprio governo de rever a regra do teto de gastos (que limita as despesas públicas à correção da inflação) para ampliar os desembolsos com programas sociais e emendas parlamentares em 2022, ano eleitoral.

“Temos uma tempestade perfeita composta pela forte deterioração do quadro fiscal e expressiva alta de preços. O BC terá de ter pulso firme, pois a política monetária está sozinha”, afirmou o economistachefe da Sulamérica Investimentos, Newton Camargo Rosa, que admite que sua previsão de alta de 1,25 ponto foi atropelada pelo IPCA-15.

Entre as casas que passaram a ver a possibilidade de alta de até 2 pontos, está a Asa Investments. “Não é só o fiscal, em paralelo estamos perdendo (o controle da) a inflação em velocidade bem superior ao que imaginávamos. Dado o contexto, entendemos ser difícil o BC não aumentar em 2 pontos”, disse o seu economista-chefe, Gustavo Ribeiro.

O aumento dos juros terá impacto negativo na recuperação da economia e na geração de novos empregos. Como reflexo desse cenário, num dia de novos recordes das Bolsas nos EUA, o Ibovespa terminou com baixa de 2,11%, aos 106.419,53 pontos. Já o dólar teve valorização de 0,32%, cotado a R$ 5,57 – com variação acumulada no mês de 2,34%./