O Globo, n. 32743, 31/03/2023. Política, p. 6

Centrão racha em “guerra de blocos'' na Câmara

Lauriberto Pompeu


A formação de blocos na Câmara dos Deputados expôs um racha no Centrão, em um movimento que já antecipa a disputa por espaços vislumbrando a sucessão de Arthur Lira (PP-AL) no comando da Casa, daqui a dois anos. Uma leva de partidos que estiveram ao lado do parlamentar na campanha vitoriosa de fevereiro resolveram seguir caminhos separados e formar blocos rivais internamente. PSD, Republicanos, MDB e Podemos oficializaram, na quarta-feira, um bloco que soma 142 deputados e, por enquanto, é o maior da Casa. O PP, que costumava agir em sintonia com Republicanos, não está no grupo.

Para não ficar isolado, Lira procurou o União Brasil, PSDB, Cidadania, PSB e PDT para se reunirem em um bloco com o PP. Juntos, eles representam 164 parlamentares e superariam os outros conjuntos. O PL, maior bancada, com 99 deputados, não está em bloco, mesma situação do PT, restrito à composição da federação com PCdoB e PV (81 parlamentares).

O tamanho das alianças é importante porque dá força para os partidos reivindicarem relatorias de projetos importantes e presidências de comissões. O presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), disse que a decisão de ficar em um bloco separado foi tomada pelo próprio PP.

— Não fomos convidados (para o bloco com Lira) —resumiu o dirigente partidário.

O presidente da Câmara era entusiasta de formar uma federação com o União Brasil, partido criado pela fusão do DEM com o PSL. A ideia seria fortalecer as duas siglas na Câmara, o que facilitaria, por exemplo, que o União Brasil indicasse o relator do orçamento do ano que vem. O cargo, no entanto, deve ficar com o PL. A tentativa de aliança não prosperou por divergências no comando da federação, mas os partidos já haviam anunciado que estariam juntos na Câmara.

O líder do PSD na Casa, Antonio Brito (BA), foi na mesma linha do presidente do Republicanos e disse que a decisão de seguir em outro grupo foi do PP.

— MDB, PSDB, Republicanos e Podemos não saíram do bloco original. Os partidos escolheram um líder (Fabio Macedo, do Podemos-MA), e teremos rodízio na liderança a cada 30 dias para que a partir daí nós possamos discutir as pautas e indicar relatorias. Sempre em consonância com o presidente Arthur Lira e com o pensamento dos nossos partidos — disse, minimizando o distanciamento em relação ao presidente da Câmara.

Lira tem no União Brasil um de seus principais aliados no Congresso, o líder do partido na Casa, deputado Elmar Nascimento (BA). Os dois são amigos próximos e costumam dividir a influência na indicação de cargos, como na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), e, inclusive, já estiveram juntos em viagens pelo Brasil e exterior.

Elmar sempre quis ser presidente da Câmara e se movimenta para ser um dos candidatos à sucessão de Lira em 2025 — o mesmo se aplica a Marcos Pereira. Os dois já se apresentaram como pré-candidatos em 2021, mas no final apoiaram Lira. Os dois deputados evitam falar sobre a futura disputa. Procurado, Pereira disse que o bloco não tem “nada a ver” com a sucessão na Câmara. O MDB também almeja voltar a comandar a Casa.

— Está cedo, porém a disputa sempre será saudável para o Parlamento e a democracia —disse o ex-presidente do Senado e deputado Eunício Oliveira (MDB-CE).

Ambos os lados dizem que não há um atrito entre Lira e os partidos do outro bloco. O presidente da Câmara se reuniu nesta semana com os líderes dos partidos e os parabenizou pela formação do grupo.

Caminhos distintos

Apesar disso, em conversas reservadas, integrantes do bloco sem Lira reconhecem que será natural que os grupos sigam caminhos separados na próxima eleição da Casa. Eles dizem que há um compromisso com Lira, mas não necessariamente com um candidato que será apoiado por ele para comandar a Câmara daqui a dois anos —o atual presidente já foi reeleito e não pode tentar um novo mandato.

Os parlamentares do bloco sem o PP também avaliam que o grupo terá mais unidade que os partidos que ficarão mais próximos de Lira. Eles chamam a atenção para o fato de que os presidentes do PSD, Gilberto Kassab; do MDB, Baleia Rossi; do Podemos, Renata Abreu; e do Republicanos, Marcos Pereira, vivem todos em São Paulo e têm uma facilidade natural para se reunir e fechar acordos. A mesma sintonia não é observada entre os presidentes do PP, Ciro Nogueira; do União Brasil, Luciano Bivar; e do PSDB, Eduardo Leite.